domingo, 3 de agosto de 2014

O prato do dia e da noite

01/08/2014                                            

          Não sou mestre de culinária nem sei enfeitar a travessa, apenas ando de olho na ementa dos cozinheiros da nação, para não comer gato por lebre acompanhado da sobremesa que diariamente é propagada pela comunicação anti-social ao serviço do dono, magistralmente pintada no quadro de Paula rego, “Salazar a vomitar a Pátria”.
          A ousadia de citar a artista e sua colorida obra, num quadro tão negro e deprimente como o que vivemos, obriga-me a pedir desculpa pela ignorância de quem não sabe distinguir o mural “Guernica” de um anjo Gabriel pintado na tabuleta de uma campa do cemitério paroquial, porem foi a melhor descrição que encontrei para descrever o prato que ainda continuamos a consumir com prazo de validade avariado.
          Muitos parasitas da culinária informativa, politica e financeira, formam um triângulo que nunca se movimenta por impulsos de liberdade, igualdade e fraternidade. De vez enquanto descem ao rés-do-chão, com o objetivo de manter o povo desunido que mais facilmente será vencido, criando intrigas entre pais e filhos, avós e netos, maridos e esposas, funcionários públicos e privados, aplicando a tradicional cartilha de dividir para melhor reinar, aumentando assim o pelotão dos dependentes do rendimento de dignidade mínima, e reforçando o batalhão do rendimento eleitoral máximo, transformando a nossa sopa dos pobres imprópria para consumo humano.
          Há tempos atrás, no turno diurno à luz do dia, o (PS) “Piquete de Salvação” aterrou aflito com notável falta de ar em socorro do (BCP) “Bom Comércio Partidário”, disponibilizando para a intervenção o trio “Ferreira, Vara e Amado”, (FVA) “Fraco Valor Acrescentado” assim denominados depois de concluída a operação.
          Agora no turno noturno pela calada da noite à luz da EDP, com idêntica prontidão e igual aflição respiratória, aterrou o (PSD) “Piquete de Salvação Destemida”, em socorro da (sagrada) família (BES) “Benemérita Esperança Sagrada” disponibilizando para a operação a brigada de serviço (BRM) “Bento, Rato e Mota”.
          Mota, destacado quadro ativo do piquete de intervenção, e ilustre deputado da nação com responsabilidades nos serviços de informação do estado, foi sacrificado com o cargo de Presidente do Conselho Estratégico e “Chairman”, um género de sentinela da caserna para vigiar o paiol das munições.
          Rato, que ainda hoje não sabemos por qual buraco terá entrado, depois de uns tempos a estagiar no ministério das finanças a roer a dívida pública que vem-Deu ao novo patrão, para na melhor ocasião devolver às origens com juros e língua de três palmos.
          Bento, ilustríssimo economista e conselheiro de estado, amigo do amigo Cavaco e reserva especial de Coelho, previamente engarrafada para servir nestas grandes ocasiões depois de esgotado o meio-seco Gaspar e a seca Maria Albuquerque. Enfim, tudo gente refinada da alta finança, selecionada (nos viveiros geniais) entre dez milhões de almas ingénuas, e orgulhosas de mais uma peregrinação ao campo santo onde jaz o (BPN), “Bom Povo Nacional” para rezar-lhe pela alma.
          Sabemos o sofrimento que passam estes génios (da manigância), para conseguir a chuva no naval e o lugar ao sol na eira o ano todo. Esta malta, quando termina a licenciatura (de preferência ao domingo pela fresquinha) e se apresenta ao mercado de trabalho é escorraçada pelas empresas em geral, restando-lhe apenas a via única do funil para ingressar no penoso caminho do caciquismo paroquial, distrital e nacional, antes de conseguir alcançar a tão desejada selva povoada de “Boys e Vacas”, para aprender o equilíbrio de manter-se encima da árvore com a técnica do macaco que só larga o ramo da mão esquerda quando o da mão direita estiver bem agarrado. Depois de conseguida a lição de equilíbrio na lei da selva, os recém-licenciados “dominicais”, tem agora tacho garantido na pantanosa selva do povo.
          Tudo que vemos, lemos e ouvimos na comunicação anti-social está ao serviço desta cacicada, dos bancos e demais grupos económicos, para intimidar-nos, incriminar-nos e relegar-nos à prateleira da inexistência, criando um ruido de superfície que abafa os verdadeiros problemas de fundo onde vivemos espezinhados, enxovalhados e ainda culpados pela falta de emprego, de salário, e pela desgraça que o país atravessa, acusados de gastar mais de que devemos, e de viver acima das nossas possibilidades, porque fomos ao Jumbo comprar um sofá e um chapéu de palha mexicano na ultima excursão paroquial a Fátima.
          É claro que com estes vícios despesistas, resta-nos emigrar para evitar a penhora do sombrero, do sofá e da casota do boby, fiel companheiro que vai compartilhar a nossa próxima morada debaixo da ponte, longe do conforto do monarca D. Duarte Pio reformado desde o dia em que nasceu, tal como tantos Republicanos que também o são desde o dia que tomaram assento nas cadeiras da assembleia do povo, para servir de cães-de-guarda dos pobrezinhos que de vez enquanto por amnesia aguda, se esquecem em declarar cinco milhões de euros ao IRS.
          No célebre quadro pintado a cores, “Salazar vomita a Pátria”, no quadro pintado a preto e  branco em que vivemos, ainda permanecem as regurgitações de uma pátria Salazarenta, que tal como na altura ainda me obriga a ver e ouvir sempre a mesma porcaria, com notícias e comentários por encomenda, seguidos de entretenimentos primários, enjoativos e fastidiosos de uma culinária mediática que aplica a receita forçada do come-em-casa, enchidos e entalados, entradas e sobremesas, com shows de sanita e concursos de bidé para enfeitar a mesa e disfarçar o sabor do prato único do dia e da noite.
          Finalmente de quem é a culpa? Se analisarmos a coisa desapaixonadamente devemos reconhecer que a culpa é nossa. Chegamos a um tal ponto de decomposição cívica, que só encontraremos comparação em Vítor Frankenstein a criar monstros que não sabemos controlar.
          Foi apenas um sonho. Uma noite de inverno sonhei que o povo me tinha confiado a guarda dos governantes. Aquilo era uma espécie de governantes com comportamento de um rebanho de cabras soltas no meio de um campo de vinha totalmente destruída.
          “Passado alguns dias continuavam a abrir a boca com a mesma facilidade, mas era notório a melhoria e o cuidado com que a fechavam para não trincar a língua. Os governantes que tinham sido eleitos para governar e tentassem servir-se do povo como escadote para saltar para o lado da vida airosa, só tinham duas saídas: voltar para a casa de onde vinham ou passar pela casa do endireita para concertar a meia dúzia de costelas partidas, que era a taxa mínima garantida que se aplicava aos oportunistas e aos aldrabões. Passado um mês a fila de candidatos desapareceu e ninguém queria ser governante, foi necessário decretar (como na tropa) a governação obrigatória onde o recruta-governante tinha de respeitar as tropas e governar a caserna com exemplar dignidade. O tempo passava ao ritmo que o país melhorava. Havia lugar para todos. O dinheiro sobrava, não havia desempregados, esfomeados, maltratados, abandonados, espezinhados, enteados nem aldrabões excomungados. Apenas havia filhos de quem a pátria se orgulhava, protegia e respeitava. As cabras da vinha transformaram-se em governantes, e a vinha das cabras num país de sonho”.
          Abri os olhos, queria voltar a sonhar mas continuei no pesadelo. O país de sonho continua a vinha das cabras, os governantes continuam as cabras da vinha, e o povo continua sem uvas e a beber vinho feito a martelo.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Um velho retrato


17/06/2014
          Felizardos da vida, vivíamos todos em comunidade, as vacas (magras) viviam em baixo, separadas da malta pelo sobrado de madeira, eram tempos de ásperos recursos em que a necessidade aguçava o engenho e assim se resolvia a falta de aquecimento central e ambientador artificial, substituído pelo ecológico ambientador e aquecimento natural.
          O chão da cozinha era ladrilhado a perpianho deitado, a cheminé de campana aberta abrigava a família e servia de fumeiro para chouriços e presuntos curar ao calor do lume da lareira. A robusta parede de pedra dobrada tinha vários nichos embutidos. O nicho do fundo servia de borralheira e de aposentos para o cão e o gato nas noites frias de inverno; no da esquerda morava o cântaro de barro da água e demais utensílios da cozinha; o do lado oposto servia de armário e de mesa de jantar quando abria a porta na horizontal sustentada por duas dobradiças e uma estaca de madeira. A mísula saliente da parede suportava uma estatueta de pau de Nossa Sª de Fátima, maneta sem braços que foram queimados pela proximidade da chama da candeia a petróleo que iluminava o forno de pedra atrás da masseira onde a avó amassava o pão com a lengalenga: ”Assim se amassa / assim se peneira / assim se vira / o pão na masseira”.
          As camas eram de colchões de palha com pulgas. Em relação às pulgas, nos anos oitenta, um escritor estrangeiro por não entender o aumento da natalidade daquele tempo escreveu: “a culpa é dos pobres que tem um vigor sexual desregulado, e andam a procriar mais do que podem alimentar”. O senhor escritor não sabia que a culpa era das pulgas! Nesse tempo o casal passava a noite toda um encima do outro alternadamente. Enquanto o de cima descansava, o de baixo mexia o cú para fugir das picadas das pulgas que parecia uma bailarina no Harém das mil e uma noites. Agora para inverter a tendência, deveriam os casais comprar colchões de palha com pulgas para ver se a coisa funciona, a não ser que a coisa tenha sofrido uma trombose e nem as pulgas consigam dar-lhe sinais de vida.
          Manhã cedinho, os cornos a bater no sobrado acordavam a família para anunciar a hora do pequeno-almoço. Para as vacas a copa de palha, para os vaqueiros a tigela de água d‘unto com pão de milho, uma pechincha para o colesterol que na altura andava sem morada certa.
          O jantar era de três sardinhas, uma para o pai e as restantes a dividir pela família, acompanhadas da tigela de caldo com farinha e do potinho de vinho quente com açúcar para aquecer o colete antes de ir deitar. Quando a avó começava a rezar o terço era hora de o genro ir fazer companhia às pulgas. Os outros rezavam até adormecer enquanto a avó terminava a reza sozinha a pedir ao criador que nos livrasse das labaredas do inferno.
          As noites de fiada eram noites de festa, ninguém rezava, até as pulgas dormiam sozinhas. As vacas pernoitavam ao relento para ceder os aposentos às fiadeiras, que depois de estrumados com tojo novo para cobrir a bosta, eram equipados com bancos de madeira compridos encostados à parede onde elas se sentavam de roca à cinta engalanada com uma pelota de lã, estriga de linho apertada pelo naipe e fuso onde nascia a maçaroca. O espaço livre entre duas fiadeiras assinalava que a moça da esquerda (salvo-seja) era namoradeira.
          Bonitas, de rosa à orelha, asseadas de blusas brancas ou coloridas e saias de folhos com racha apertada na cinta com um colchete. Umas morenaças-do-caraças em contraste com a velha parede e a lanterna pendurada na trave de carvalho, pareciam um jardim de flores.
          Os rapazes previamente convidados só podiam entrar na fiada quando elas começavam a cantar, o que faziam divinamente sem acompanhamento instrumental como agora se usa para encobrir a voz de cana-rachada.
          De todo o lado chegavam grupos rivais. Era obrigatório cumprir as regras para que a coisa não desafina-se. O “Apaga-a-vela”, a nossa mascote não era flor que se cheire. Logo que podia atropelava todas as regras, sem olhar como nem na presença de quem, começava logo a gritar; “vamos rapaziada, galinha que canta quer galo”, o que deitava logo por terra todo o romantismo da coisa.
          Porém tudo lhe era permitido em troca dos serviços que prestava. Quando chegava a nossa vez de sentar ao lado da namoradeira, tratava logo de apagar a lanterna a petróleo soprando discretamente numa cana de foguete furada, que nos permitia com alguma prática e muita safadeza desapertar o colchete e abrir a racha da saia que transformava aquele momento escuro na mais clara recordação da nossa vida.
          Andei a aperfeiçoar técnica da cana furada desde a noite que a avó me levou à fiada e me sentou no feno dentro da manjedoura, um género de camarote presidencial do Moulin Rouge para me proteger de ser atropelado pelos adultos.
          Ainda hoje sinto arrepios na espinha ao lembrar o silêncio na corte quando o Timias entrou. Um sujeito de baixa estatura não superior a três garrafões de cinco litros de pé, com um cavaquinho ao tiracolo pendurado numa guita de foguete, a cantar: “Não há dinheiro que pague / a filha do lavrador / anda ao sol e á chuva / fica sempre da mesma cor” - “Quem me dera ser o linho / que vós na roca fiais / quem me dera tantos beijos / como vós au linho-dais”. Finda a dedicatória dirigiu-se à manjedoura, pendurou-me o cavaquinho ao peito e foi namorar.
          Da manjedoura vi com estes dois que a terra ade comer, uma cana furada que apagou a lanterna de petróleo, provocando a escuridão que me iluminou para sempre o caminho do colchete da saia com racha.
          Depois dessas memoráveis noites nada mais a declarar. As saias de colchete fechadas com racha foram substituídas por rachas abertas sem saia e sem colchete. Foi-se a adrenalina, nem o rastejar na lama da fronteira para dar o salto debaixo de fogo cruzado entre carabineiros e guardas-fiscais fizeram despertar a adrenalina da racha. Era o início de uma seca de vida alicerçada em padrões de banalidade, monótona e bastante aborrecente.
          Agora no meio deste turbilhão de preguiçosos e de ladrões, de rascas e de enrascados, de indignados e de “grandoleiros” desafinados, resta-me a recordação de um velho retrato. Um verdadeiro “Chef-d’oeuvre” do fotógrafo da minha terra, que me equipou a rigor antes de imortalizar o acto para memória futura, com o peito que sobrava de uma camisa que em tempos idos era branca, uma fina gravata preta pendurada num elástico ao resto do colarinho, um pulôver xadrez a preto e branco aberto nas costas que ajustava ao cabedal do cliente com uma mola de prender a roupa, antes de cuspir três vezes num pente desdentado em osso torrado que sacou de uma fenda da parede para dar o último retoque no penteado. Com o dedo em riste apontado para objetiva, ordenava: “Olha o passarinho; Hoje vais tirar o retrato da tua vida”.
          O velho retrato é o elo de ligação com o paladar da meia sardinha, o cavaquinho do Timias, o caldo de farinha, a tigela de água d´unto, o forno e a masseira da avó, o colchete da racha da saia e o feno da manjedoura vazia, escola de onde saltei para a arena da vida sem medo de enfrentar o bicho de caras, ao contrário de muitos “copinhos de leite” que saltam da recheada manjedoura universitária e nem para rabejadores servem.
          Aos aspirantes rabejadores, desejo que o Pai Natal lhes ponha no sapatinho um colchão-de-palha com pulgas. Se não lhe pegam de caras, peguem-lhe de cernelha para mostrar ao mundo que, “ assim se amassa / assim se peneira / assim se vira /o pão na masseira”. O colchete da saia, a saia de racha, as pulgas da palha; Que saudades!

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Encantadores de burros


          02/04/2014
          Para melhorar o diálogo com a parelha de fiéis amigos, filhos de pai incógnito como outros filhos de amigos menos fiéis, levou-me a coscuvilhar sobre o assunto até encontrar o escritor mexicano Cesar Millan Favela, mundialmente conhecido por “encantador de cães”.
          Antes de encontrar o famoso especialista, os motores de busca foram encontrar uma vasta lista de encantadores de burros, encabeçada por antigos e atuais governantes, acompanhados da habitual passarada política de “pintassilgos e rouxinóis, morcegos e patos-negros, galinholas e pardais, que infelizmente (como diz o Vitorino), cada vez há mais”
          Dizia o velho Napolitano, “si no è vero è bem trovato”. O autor desta lista nem terá pensado na desgraça da extinção do Burro Mirandês, mas sim no alastramento e extensão do Burro Português resistente à medicação e às adversidades, sem aftas nem fastio, capaz de devorar qualquer palha que lhe ponham na frente.
          Burros, aves de rapina e encantadores, travam uma luta sem tréguas para conquistar o lugar no poleiro com a promessa garantida que depois de empoleirados vão devolver as reformas e os salários roubados, reabrir hospitais, escolas e tribunais, e se necessário for, até vão ressuscitar os falecidos desde a vigência da troika, resgatando os mortos-vivos do braseiro infernal para uma nova vidinha celestial.
          Chega o mês de maio, mês de Maria, vai-se a troika quando o relógio do CDS parar, rezemos à Virgem de Fátima pela alma dos bem-aventurados Pedro e Paulo, e pela (suja) saída limpa do resgate, para agradece-lhe a limpeza que nos fizeram na carteira, depois de limparem o sebo a metade dos salários e das reformas, depois de terem aumentado a divida, sepultado quatrocentos mil postos de trabalho, e aliviado o povo da pesada carga de lucros que vinham da EDP, da REN, da ANA, dos CTT, dos ESNVC, da Caixa-Seguros, e de mais 78 mil milhões da troika, seguidos em breve da TAP e das Aguas de Portugal. Só falta vender a avó por falta de mercado, antes que o relógio do CDS seja substituído pela barriga do povo a dar horas nos próximos 20 anos, por causa da maldade de Pedro e Paulo que em menos de uma troika de anos conseguiram por o país pior que o chapéu de um trolha.
          Tudo não passa de uma estratégia protagonizada por “gangs”, formados de Pedros e Paulos selecionados para servir o dono e para fazer com que os ricos sejam cada vez mais e mais ricos, e os pobres sejam cada vez mais e mais pobres, deixando pelo caminho uma classe média na penúria irremediavelmente destroçada.
          Para eles os galões e promoções, para nós os apertões e restrições. Desde o pântano de Guterres à tanga de Barroso, um na sopa dos pobres, outro nos luxos da europa, ambos na calha da candidatura à presidência da república. Vítor Constâncio no BCE pela falência do povo e do BPN. Catroga com 50 mil euros mensais pela doação da EDP aos chineses. Gaspar volta à casa-mãe do FMI pela destruição do país. Arnaut no banco mais poderoso do mundo GOLDMAN SACHES pela ligação entre poder e poderosos para despachar as privatizações. Álvaro na OCDE pela promoção dos pastéis de belém. Enquanto nós alimentamos as fileiras do desemprego antes de ser alimentados pelos bancos alimentares contra a fome, rezando ao pai do céu para que a prescrição da fome e do desemprego tenha o mesmo tratamento das prescrições milionárias de Jardim Gonçalves e amigos da mesma laia.
          Para o funeral da pátria, temos as “carpideiras” Cavaco e Soares que choram lagrimas de crocodilo com a miséria dos reformados de 200 euros, desde que não lhe mexam nas milionárias reformas e negócios familiares. O genro de um(a), amarfanhou em 2012 o MEO Arena (reencarnação do falecido Pavilhão Atlântico) por21,2 milhões, que em 1998 nos custou 55 milhões. O(a) outro(a), ao faturar mais de 300 mil euros anuais à custa do suor do povo, fatura mais do que qualquer pequena ou média empresa, com despesas de Gabinete, Secretaria, Assessor, Carro, Motorista, e ajudas de custo em deslocações oficiais e oficiosas de palestras com o povo su(g)ado que aplaude entusiasticamente para agradecer-lhe a colaboração e presença no desfile a caminho da desgraça do país.
          Quantos mais reformados de 200€ terão de ser sacrificados? Quantos filhos terão de ficar sem teto? Quantos netos terão de emigrar para que estas trituradoras do erário público continuem a usufruir destes luxos numa pátria falida onde o prato do dia é a fome? Só falta galardoar o padrasto da reforma do IRC, que em harmonia com o ministro da economia, (mais conhecido por ministro das cervejas), deu um jeitão aos patrões das grandes empresas, permitindo-lhe por mais uns trocos na bolsa de valores, tirados da bolsa de estudos dos cientistas, e dos bolsos dos pensionistas, tudo em nome da pobreza e da (CES) Contribuição Extraordinária de Solidariedade para ricos. Eles juram que vivemos acima das nossas possibilidades e da nossa inteligência, na verdade se 40 anos depois de abril a transformar essa gente em governantes ainda não foi suficiente para aprender a obriga-los a cumprir as promessas que fazem, é porque somos irremediavelmente burros.
          Pobres heróis do mar, pobre povo de brandos costume, depois de perder heroísmo e nobreza foi transformado num povo de cagões sem valores, amordaçado e sem costumes nenhuns.
          Bem podia calar-me e acatar o conselho que nos Simpson, Homer deu ao filho Bart: “para ter sucesso na vida deverás repetir sempre a frase”:Boa ideia chefe”. Nunca ninguém se queixou que dar graxa lhe tenha prejudicado a carreira, é mais fácil encontrar um marciano verde-alface de que encontrar um chefe insensível à bajulação. Não gosto de chefes. Desconfio deles ao ponto que quando atravesso uma rua de sentido único olho sempre para os dois lados com receio que venha um em contramão para me atropelar. Eles também não gostam de mim. Preferem rejubilar no meio dos que atravessam a autoestrada sem olhar para lado nenhum, podendo assim atropelar à vontade os que passam a vida a lamber botas e aos trambolhões, espelhando assim a decadência do País.
          Sem heroísmos nem nobrezas, bastava-nos alguma dignidade para obrigar os governantes a iniciar as reformas do estado pela reforma do IRS e do IVA. Assim o povo teria mais dinheiro no bolso e mais poder de compra, consumiria mais, haveria mais procura, mais criação de novas empresas e mais empregos, haveria mais gente a pagar impostos e a descontar para o IRS e S Social, aumentariam as receitas, os salários, as reformas, a proteção social, os cuidados com a saúde, a educação etc. etc. É neste etc. que começa o receio dos governantes. Um povo com melhores salários e melhores reformas fica mais resmungão, mais reivindicativo e mais difícil de governar. A estratégia dos encantadores é de manter os burros de cabresto e o freio bem apertado.
          Já que representamos alegremente a cauda da europa, vamos abana-la para enxotar as moscas das substâncias excrementícias da história do passarinho.“Uma manhã fria de inverno andava uma senhora vaca a pastar na pradaria. Na sua frente um passarinho todo molhado chorava quase a morrer de frio. Com pena do passarinho a senhora vaca aproximou-se e deitou-lhe uma bosta em cima para o aquecer e salvar-lhe a vida. Passado algum tempo já fora de perigo o passarinho começou a gritar para que alguém o tirasse dali. Uma senhora raposa ouviu o passarinho gritar, aproximou-se e com a ponta dos dedos tirou o passarinho da bosta, limpou-o delicadamente na erva e comeu-o”. Moral da história: “Nem sempre quem nos tira da merda tem a intenção de nos salvar”.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Senta-te, e escreve duas cartas

02/01/2014

          Em Monção, o clássico bailado de dança das cadeiras do poder, fez lembrar-me a cena do filme “Traffic” onde o velho general fazia a passagem de testemunho ao seu substituto.
          “Traffic” um filme Germano-Americano de 2000, dirigido por Steven Soderberg que relatava o narcotráfico de diversas prospetivas: de um usuário, de um capanga, de um político, e de um traficante.
          A determinada altura, um velho General experiente, fazia a passagem de testemunho da coordenação da luta contra o tráfico de droga ao seu sucessor, a quem contava a história do antigo líder russo Kruschev, que quando forçado a sair, se sentou, escreveu duas cartas para entregar ao seu sucessor com as seguintes recomendações. “Quando chegares a uma situação sem saída, abre a primeira carta e estarás safo”. “Quando voltares a encontrar-te em situação idêntica abre a segunda carta”.
          O novo e inexperiente aspirante a general depressa levou a coordenação a um beco sem saída, abriu a primeira carta que apenas dizia: “Culpa-me de tudo”. A solução revelou-se eficaz. Tudo era culpa do passado.
          Depois de algum tempo a situação voltou a degradar-se até cair na segunda situação limite. Esperançado, o novo dirigente abriu a segunda carta que dizia: “Senta-te e escreve duas cartas”.
          Mais do que o conteúdo das cartas, marcou-me a carga metafórica do velho general, vergado pela experiência de vida, consciente das suas capacidades em contraponto com o inexperiente sucessor crente que a sua motivação, convicções e princípios iriam fazer a diferença.
          É com tristeza que vejo Monção a caminhar para uma situação sem saída. O sucessor não tardou em abrir a primeira carta não só para disfarçar o beco sem saída culpando o passado, mas tão somente criar para si próprio um currículo que definitivamente não tem e dificilmente um dia terá.
          Os sinais anunciam uma governação de navegação à vista, sem rumo e sem horizonte baseada na culpabilização do velho general e do passado. A falta de gabinetes para vereadores e deputados da oposição, a não consolidação da divida, o atraso nas atividades extracurriculares, os parquímetros, os velhos hábitos forrobodescos com os tradicionais magustos, jantares de Natal a 23 pagos por quem a 24 só pode cheirar o bacalhau. E ainda o forrobodó de “atividades de laser” promovidas pelos boys de serviço e personalizadas pelo pessoal de sempre, levadas a cabo nas piscinas, ginásio e cineteatro para que não falte exercício físico, banho e relaxamento com comédia de Ópera-bufa para retratar a triste realidade Monçanense.
          Consta ainda no rosário do despesismo as abastadas e luxuosas excursões, e o turismo subsidiado dos tesos. Enquanto os vizinhos arrecadam os euros nós requisitámos funcionárias para servir refeições aos turistas tesos, velhos “habitués” da nossa mesa do orçamento, enquanto os nossos restaurantes andam às moscas. Completa-se o ramalhete com o pagamento das penhoras e faturas da EDP para manter em pé os moribundos caprichos futebolescos.
          É claro que todo este clamor será administrado pela carrada de nomeações de “chefes”, que ao contrário dos professores, não tem de pagar e provar que sabem o que já sabiam, para começar a faturar com salários principescos passeando incompetência e ignorância por cima de anos de profissionalismo de pais de família e gestores privados que veem assim banalizado e emporcalhado o esforço e o fruto do seu trabalho que é transformado no papel higiénico destes coveiros da sociedade.    
          Estranho seria se um incompetente não nomeasse outro da sua laia que por sua vez seguirá o guião da incompetência até colocar a cereja no bolo da desgraça final. É por causa destas incompetências que pagamos décadas de despesismo desde o tempo da ditadura até ao tempo da “dita mole” tão flácida e impotente que nem com óculos de ler se vislumbra qualquer crescimento sustentável.
          Cinefilamente falando, parece que o aspirante a general ainda não percebeu que os amantes da 7ª arte já não se limitam a querer a mudança dos atores incompetentes como afirmam que já estão fartos de ver este (Traffic) filme de clara cultura de arrebanhamento, promoção da ociosidade e despesismo, em vez de promover as escolas, a indústria, o comércio, serviços, agricultura e o pleno emprego para que a gente de Monção encontre a sua dignidade de ser gente e o caminho da verdadeira cultura da liberdade.
          Arrepiou-me a resposta que o sucessor deu aos colegas numa reunião do executivo Camarário quando se ponderava uma auditoria às contas. “Não vale a pena, porque me palpita que a Camara vai ser auditada pela IGF”. Assim mesmo e sem pestanejar.
          Sem palpites, seria muito mais correto o sucessor ter informado os colegas que a Camara vai ser inspecionada (ou já foi) por causa do ginásio municipal. Que vai pagar a coima (ou já pagou) de uma contraordenação. Que vai ter de repor o IVA (ou já repôs) desde Outubro de 2010 a novembro de 2013. Que o contribuinte vai ter de continuar e abastecer a manjedoura do elefante para pagar estas ilegalidades. Que em setembro de 2013 andaram sorrateiramente a incluir o IVA nos preços do ginásio, mas em vez de aumentar diminuíram 23% para que tudo ficasse na mesma e para mostrar que vale tudo enquanto o contribuinte aguentar e a concorrência não for definitivamente enterrada.
          Não ficaria admirado se o coador das fugas tivesse largado mais uma, como a do polícia que vai a caminho e avisa o gatuno para fugir, razão pela qual terá sido incluído o IVA à pressa antes de a inspeção chegar. Ou então a inspeção já terá sido efetuada, mas como a governação em Monção era do tipo confidencial, os donos da coutada esqueceram a regra que a verdade é como o azeite, por mais reviravoltas que se dê acaba sempre por vir ao decima.
          Até salivo só de pensar no meu avô quando dizia, “quem não sabe F…. (que rima com prazer) até os C…… (que rima com balões) lhe enredam,” razão que me obrigou a fazer-me à vida desde tenra idade. Na mesma linha de pensamento filosófico deste naco de sabedoria, o meu avô acrescentava: “certa gente não F… (que rima com não pode) nem deixa F…. (que rima com prazer) ”. O mesmo que dizer que os parasitas, “nem trabalham nem deixam trabalhar.”
          É lamentável, arriscado e de péssimo mau gosto que certa “gentalha” se sirva do poder para tentar humilhar, apoucar, brincar com a dignidade e a vida profissional de jovens que investem e criam empregos na sua terra, “sem lamber os C…… (que rima com balões) a ninguém.”
          Da profundidade deste mar de dúvidas emergem duas certezas: 1ª, ninguém tem C….. (que rima com balões) para prever o final deste (Traffic) filme. 2ª, a culpa não morrera solteira. Porém desejo que tenha um final feliz.
          Meu caro, um bom general estende sempre a mão ao soldado que quer levantar-se, e estende sempre a perna para empurrar o soldado que quer cair. Nunca arrisca a vida do seu regimento por causo dos parasitas.
          Senão perceberes isto nunca serás um bom general. E se não arrepiares caminho, tenho muita pena mas estás aqui estás a sentar-te para “escrever duas cartas”.

domingo, 17 de novembro de 2013

A missa do galo

 
          16/11/2013
          Talvez, que as memorias representem a capacidade de fantasiar o passado, recordando a nostalgia da infância, onde o ponto de partida pode ser um elemento tão simples como um odor, um som oriundo de um tempo perdido
          Outra coisa é sonhar de olhos abertos com esta idílica terra de Deu-la-Deu e recordar com saudade o Didon (amigo do peito) e seu receituário mágico, que fez com que o burro da Sagrada família colabora-se com mais entusiasmo na encenação do Presépio vivo da missa do galo.
          O Didon, um veterano já com a dúzia de primaveras, nunca tinha assistido a nenhuma missa do galo, pois quando tinha desejos de participar faltava-lhe a idade, e quando sobrevieram os anos, abalara-se-lhe a fé. Naquela idade em que andamos zangados com tudo, ele considerava uma alarvidade importunar a malta com missas fora de horas.
          Decorriam os anos do Twist, era véspera da missa do galo e dia de confesso para os da primeira comunhão do ano anterior. Na casa-da-mesa, os mais velhos faziam o “casting” para seleção dos figurantes à representação do povo de Belém. Levavam vantagem os candidatos com artroses agudas, que garantissem qualquer falso movimento durante a encenação. O Chanquinhas e sua companheira, foram selecionados por possuírem os requisitos exigidos pelo júri.
          Já o sol se escondia detrás do sino grande da torre, a fila à porta da Sacristia crescia como leite-ao-lume. Depois do tilintar da aldraba, abriu-se a porta, o Didon saía do confessionário com cara de poucos amigos. O Zezinho (de confiança duvidosa) já tinha confidenciado ao padre António, uma relação detalhada dos nossos pecados, a começar pelo “sacrilégio” de numa noite de temporal, termos escondido a mota do bom pastor no meio do campo de milho, enquanto o bem-aventurado dava o seu melhor para consolar a inconsolável (fresquinha) jovem viúva, que andava triste e desolada pelo desaparecimento do seu ente querido, que Deus chamou a si, para dar mais conforto e facilidade ao seu representante na terra.
          Quando tentei fugir, já o padre António me tinha enganchado a bengala no pescoço, para sentenciar uma penitência do tamanho da longa lista de pecados a confessar, que vinha em crescendo desde o confesso do ano anterior.
          O Padre esqueceu-se das recomendações do Chapa-lisa: as grandes dívidas dificilmente serão saldadas; “se te devo um vintém tenho um problema, se te devo mil o problema é teu”. Assim nascem os caloteiros espirituais.
          Chegou o tão desejado dia. Três horas de Igreja, a não contar com os intervalos, as cantorias e um auto de Natal com presépio vivo, bicharada, pastores, anjos de asas (com penas e tudo) a tocar trombeta anunciando a chegada do Senhor. O burro, conhecido por Janitas, era famoso na paróquia pela teimosia e mau feitio. No dia da festa, apresentou-se lindo e asseado, de clina escovada, engalanado com dois rabinhos de raposa pendurados nas orelhas, arreado com albarda de pele genuína, na qual se sentava a Virgem Maria.
           Tive a nobreza de representar Pedro, o pescador. O Zezinho representava José, o carpinteiro com o Janitas à corda, o Didon, representava Baltazar, o rei mago que estrategicamente se colocou atrás do Burro.
           A dada altura, tal como combinado, o Didon saca o receituário composto de um papel de cigarro que embrulhava alguns gramas de pimenta negra, capaz de por um moribundo a correr a meia maratona, e delicadamente com a ajuda do dedo indicador colocou em parte anatómica do Burro, ainda hoje um mistério por desvendar.
          O Janitas deu logo sinais de vida, e começou a lamber a nuca ao Zezinho. Perante tal acontecimento, os fiéis murmuravam: Milagre, Milagre. Desconfiado das intenções eróticas do Janitas, o Zezinho chamou a mamã que logo correu em socorro do seu rebento para por cobro á química que nascia entre o Janitas e José, o carpinteiro.
            Baltazar, o Rei Mago perante o desenrolar da situação, afastou-se sorrateiramente do trono, no caso de o Janitas necessitar de mais largueza. Ou não escrevesse Deus direitinho por linhas arrevesadas, porque exatamente no momento em que o Padre sobe ao púlpito e começa a debitar o sermão aos fiéis, o burro com o susto, deu um salto e atira a Virgem Maria para os braços do Anjo Gabriel, o coelho trazido pelos pastorinhos galgou Altar-mor acima, derrubando tudo na passagem, incluindo junquilhos e castiçais.
           O Padre vigiava do canto do olho, e subia os decibéis da pregação. O Janitas volta à carga, e dá um coice no poleiro do galo, este liberto das contingências, faz escala na cabeça do Chanquinhas antes de aterrar em voo copulado no Harém das galinhas. Perante a passividade dos fiéis presentes, o Pescador e o Rei Mago, de cajado em riste avançaram para por ordem no Presépio, que andava todo à tapona incluindo a Virgem Maria e o Menino Jesus.
           Por um momento, senti-me vingado do poder materno, que me obrigava a dar o meu melhor em tais encenações. O Padre no púlpito parecia um disco riscado. “Deus é grande, meus irmãos. Deus é grande”.
           Ah mundo-sagrado: quem nos dera ver os Janitas d’agora a suar as estopinhas como o Janitas da missa do galo d’outrora.
          Deus é grande, todo-poderoso, não vai abandonar-nos no meio desta manada, antes de sussurrar-nos ao ouvido o segredo do receituário mágico de pimenta negra, e a mágica pontaria do indicador, para que os Janitas colaborem com mais entusiasmo no progresso desta idílica terra de Deu-la-Deu.
           A fantasia e o sonho do passado, transformaram-se no pesadelo do futuro, sem horizonte e sem espectativas, enquanto os fiéis defensores destas matilhas se comportarem como o, ” corno que sabe que é mas não quer saber, e agradece a quem los faz crescer.
          Hoje talvez achasse piada àqueles bosquejos etnográficos de religiosidade popular. Mas prefiro pensar que assisti a um dos mais belos «gag» digno do melhor Fellini, com esta obra-prima, A odisseia dos burros” tão famosos a relinchar e a coicear, e tão desastrosos a decidir e a governar. “Arre…..?”.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Excursões e caridades Xuxalistas


16/09/2013

Chegado o Outono da vida, vencida a meta das oitenta primaveras, o Timanel é um luxo de mecânico à moda antiga. A chave de fendas e o ouvido basta-lhe para transformar os carburadores em verdadeiras sinfonias. Tive a sorte de lhe confiar os cuidados do meu popó, fiel companheiro já com a idade da tropa, e ainda está aí para as curvas, pronto para o que der-e-vier. Nunca sai da oficina sem as recomendações do Mestre. “A ver se te portas como deve ser”.
Deus quis que a companheira de sempre o abandona-se antes do fim da caminhada, precisamente na mesma altura que o mesmo Deus lhe devolveu o filho (depois de este ter saído de casa para constituir família), agora acompanhado da mulher e três filhos, sem emprego, sem casa e sem carro, que entretanto lhe foram penhorados para financiar mais uns dias de farra aos “papa-galhetas”, cuja forma de vida sempre foi de viver pendurados no salario de quem trabalha. O Timanel recebeu filho, nora e netos de braços abertos, com força e coragem de quem ainda é homem de sobra para as encomendas.
Nesta difícil fase da vida, a fim de atenuar-lhe tanto sofrimento, convidamos o Timanel para uma excursão privada “a pagar”, (não daquelas à custa da comunidade, com cama e mesa para os que tem hábitos de viver acima das “nossas” possibilidades), mas sim das de açafate com bifanas, bolinhos de bacalhau, garrafão da pipa do meio, sem esquecer o delicioso cabrito á “Foda de Monção”, deixando o sucessor “Cordeiro de Monção” para os cordeirinhos recordarem as deliciosas “Fodas” que tem ingerido nas deliciosas farras e abastadas excursões.
A coisa começou a desafinar quando uma excursionista lhe perguntou por que não aproveitou a excursão à “borla” a que tinha direito. O homem levantou-se do banco, deu três voltas á casqueta, e sem os requintes de linguagem das novas pedagogias com quem anda de relações cortadas, chamou a senhora de Burra com todas as letras, antes de puxar da carteira com a forma da nádega, para começar a debitar: “Oh mulher; Você pensa que me vendo por um copo de vinho para ouvir comícios de lavagens cerebrais até aos próximos actos eleitorais?” “Subsidiam-se passeios seniores para quem vota, e excluem-se passeios de estudo júnior para quem não vota. Para preparar as próximas gerações limitasse os passeios de estudo entre Cerveira e os Anhões, mas navega-se pelo Rio Douro para preparar as próximas eleições. O Xuxalismo só acabará quando o dinheiro do vizinho acabar”.“Como tudo isto me mete nojo”.
Ainda o Bentinho ia a meio da quadra, já o Timanel lhe tinha engrunhado os foles da concertina para continuar a sua indignação. “Com a cegueira que anda à solta, esta Tropa-fandanga não olha a meios para atingir os fins. Conseguirá lotação esgotada se também organizar uma excursão para levar os ceguinhos ao Cine(ma) Teatro João Verde agora pintadinho de novo, com os holofotes focados em políticos: que tem dinheiro para abrir cinemas quando o resto do País os fecha: que sustenta um ginásio desastroso para contribuintes e empresários privados do sector, um verdadeiro ninho de Jobs para Boys Xuxalistas: que tem dinheiro para comprar clubes de futebol falidos: mas que lhe falta vontade e dinheiro para gastar com os “parolos” das Aldeias que vivem na escuridão com a iluminação pública apagada. Não pode haver vícios onde não há dinheiro. É ridículo e desastroso poupar no que é necessário para gastar com fanfarronices. É ainda mais ridículo e desastrosa a passividade das Juntas de Freguesia com o poder central que faz o que quer, e dá a esmola quando bem lhe apetece. O que é isto? Parece uma Republica das Bananas que sobrevive á custa da ignorância dos Bananas da Republica, catalogados de fanfarrões e atrasados, que temos medo de perder o medo, que somos desorganizados e conhecidos pelo resto do mundo de “pedintes a viver na barraca, com antena parabólica no telhado, plasma pendurado na parede, três telemóveis no bolso, o prato vazio encima da mesa, e um submarino estacionado à porta”.
Depois do desabafo, o Timanel limpou a testa na manga da camisa antes de afiançar pelos ossos da falecida irmã, “que em tempos idos, aviou seis numa tarde sem tirar o bivaque de magala”. Ainda hoje é famoso por ter a mão mais diligente dos arredores no que diz respeito a traseiros femininos.
Em maior forma que o nariz de Durão Barroso, começou a atirar-se (salvo seja) às viúvas e aos políticos, até cheguei a pensar que não iriamos regressar vivos. E para vincular o carinho que “elas” tem por nós, contou a história de uma senhora que estava em casa a descascar batatas, quando a vizinha lhe deu a notícia que o marido tinha morrido atropelado, a qual respondeu: “bom, já não é preciso descascar mais batatas: é um prato a menos e uma cruz a mais”. E, para encaixilhar a classe política que temos, contou que “a Câmara abriu o concurso de uma obra para a qual concorreram o Sr. António, o Sr. Pedro e o Sr. João. O Sr. António pediu 300 mil €, 100 para o material, 100 para o trabalho e 100 para o lucro e garantias. O Sr. Pedro pediu 600 mil €, 200 para o material, 200 para o trabalho e 200 para lucro e garantias. Os dois concorrentes foram excluídos. O Sr. João pediu 900 mil €, 300 para mim, 300 para ti, e 300 para o António fazer a obra. Ganhou o concurso!
Valeu-nos a hora do almoço. Depois de um assalto ao açafate e ao garrafão, fomos visitar o Cristo Rei. Quando o nosso guia, (sem lavagens cerebrais) nos explicava a história, que a ideia do santuário foi trazida em 1934 pelo Cardeal Cerejeira depois de uma visita ao monumento do alto do Corcovado no Rio de Janeiro, e que o terreno foi adquirido em 1941 e colocada a primeira pedra em 1950, tendo sido inaugurado em 1959 para agradecer ao “Altíssimo” de nos ter livrado da II Guerra Mundial, e que foram gastas 40.000 toneladas de betão para erigir a estátua da autoria do Mestre, Francisco Franco; O Ti-Manel desatou a saltar aos gritos. “Milagre, Milagre, o Cristo está a voar para norte”, quando consegui convence-lo que eram as nuvens tocadas pelo vento que voavam para sul, o céu limpou e ficamos na dúvida se foi mesmo milagre do Cristo ou magia do garrafão.
Reconheço o desajeitado que sou para meter cunhas. Porem, em sacrifício pela comunidade, peço ao Sr. Presidente da Câmara que aproveite os dotes e a sabedoria do Timanel, para dar uma afinação na máquina que anda pelas ruas da amargura, e assim livrar-nos do desastre há muito anunciado.
          No meu modesto entender, é urgente dar uma afinada na direção da máquina, que anda sem rumo, com folgas, desvios à direita e à esquerda, quando não encrava e fica a andar á roda sem sair do sítio. O carburador deveria gastar menos, acelerar e carburar mais. Os travões sem pastilhas já só travam com cunhas, por muito menos, muita boa gente já foi parar aos anjinhos. O cárter baba-se todo, deixa manchas que provocam derrapagens e desastres de morte certa. A suspensão, não aguenta mais buracos nas estradas e nos orçamentos que mais parecem um queijo Suíço. As óticas, coitadinhas parecem a lamparina do Senhor, a anunciar-nos cada vez mais túnel e cada vez menos luz. A caixa de velocidades parece a cantiga dos Canários a meter a primeira e a segunda no popó da namorada, de resto já só engata de marcha a traz. Os escapes ruidosos, barulhentos, poluidores, parecem canos de esgotos. As válvulas confundem-se com a dança de sapateado do “Fred Astaire e Eleonor Powell no Broadway” com um vasqueiro insuportável. A rádio parece uma grafonola com o disco riscado a cantar sempre a mesma música. Porem, nem tudo está perdido, estão de parabéns o bate-chapa e o pintor, pelo brilho dos cromados que continuam a ofuscar a populaça radiante de ver os “fantoches” pendurados a baloiçar no retrovisor.
         Senhor Presidente: Vá á sua vidinha, e não queira em tempos de luto pesado, carregar os remorsos de ter confiado as afinações dos travões em borguistas festivaleiros, e em guias de excursões. Sabe que na primeira curva ficamos todos (incluindo o Sr.) com a cara estampada na parede.
Em jeito de confidência, o Timanel aconselhou-me a ficar fora da máquina, porque já não tem a certeza que as afinações cheguem a tempo de evitar o desastre.
A excursão dos Xuxalistas, terminou viagem a mamar e a “ Xuxar na Xuxa do povo”. A excursão do Povo que não Xuxa na Xuxa e dá a Xuxar aos Xuxalistas, terminou num arraial Minhoto a dançar a música do Quim Barreiros e “a mamar na teta da cabritinha / mamo nela quando quero / porque a cabritinha é minha.” Et voilà.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Os filhos da pauta

01/07/2013
Na vertente musical política, 90% da “música” propagada pelo País é obra de filhos da pauta que regressam ao coreto passado um curto período de nojo, para dar baile ao povo amnésico que quer a repetição dos concertos de triste memória para quem não sofre desta doença crónico-degenerativa.
Fui para longe da zona de conforto, por lá andei, voltei tal como fui, para encontrar o povo tal-qual o deixei. Quando fui, jazíamos aos pés da Virgem, agora que voltei, jazemos aos pés de Ronaldo e do Zé Castelo Branco.
Claramente mais futebolizados, num filosofismo capaz de traduzir “J’accuse” de Zola por Jacuzzi das muchachas de Berlusconi, preparativos por preservativos, estofado por estufado, capaz de vender a baca para comprar um arboredo na Serra da Peneda, e por-aí-fora, até dar à língua de Camões o destino da língua de vaca muito apreciada com ervilhas e arroz-carolino ao forno.
Em futebolês deitamos contas à vida. “O famigerado incendio devorou quarenta campos de futebol”. “O IRS aumentou dez estádios do Euro 2004”. “ Oxalá que a telenovela seja fixe e que o central da minha equipe tenha atitude”: “Que tenha atitude”! A desgraça do desemprego e roubalheira governamental são niquices de somenos importância. Ficamos contentes de ver o CR7 faturar 40 mil euros à jorna (8 mil contos dia). Curvamo-nos e ajoelhamos quando o nosso guia espiritual sobe ao púlpito para nos lembrar as boas práticas: “ajuda o teu próximo como a ti mesmo”, sem nos questionar qual a contribuição em IRS que paga o mensageiro de tão nobre lição de moral. Não investigamos nada, não fundamos nada, não criamos escolas nem hospitais, apenas permitimos que fechem os já criados. Servimos apenas de sustento das aparelhagens do poder, com sufocantes contribuições e levianos votos de alegrias sem trabalho.
Sofremos com a ausência dos filhos da pauta. Queremos ver o Guterres na presidência da Fundação Calouste Gulbenkian, o Barroso na presidência da República, o Vítor Constâncio (vitinho) na presidência de uma qualquer fundação talhada à altura do valioso contributo que deu para delapidação do BPN. “O bom filho à casa do pai voltara”. O último filho da pauta, já voltou embebecido nos requintados perfumes Parisienses, para nos ambientar o pestilento cheiro de destruição que deixou no país.
Somos gente de brandos costumes, obedientes e bem comportada. ”Ao que te bate numa face, oferece-lhe também a outra, e ao que te tira a capa, não lhe negues a túnica”, nem a reforma, nem o salario, nem o emprego nem a tua felicidade. Mesmo se vives na miséria, foge da companhia de quem prefere morrer de pé para defender o que é seu, que não dá a outra face, e cumpre religiosamente pecadora regra. ”Olho por olho, dente por dente”.
Se já perdeste a face oferece também “les fesses”, para esquecer que o filho da pauta antes de refugiar-se na Cidade-luz, prometeu 150 mil empregos e deixou o pior desemprego dos últimos 80 anos com mais de 700 mil desempregados, que fechou milhares de escolas, maternidades e centros de Saúde, que deixou o País no pior crescimento económico dos últimos 90 anos com a pior divida publica dos últimos 160 e a pior divida externa dos últimos 120, que em 6 anos aumentou a divida de 80 para 160 mil milhões de euros, que provocou a pior vaga de emigração desde o seculo XIX,  que aumentou o IVA dos pobres para 23% e que baixou o IVA dos ricos (do golfe) para 6%.
Sem face, sem túnica e sem dignidade, facilmente esquecerás que viste o filho da pauta regressar ao volante de um modesto automóvel alugado, para não dar nas vistas com o mercedes S 550 CDI, de 95 mil euros (19 mil contos) que comprou passados dois meses depois de sair do governo sem precisar do empréstimo que fez na CGD para “estudar” em Paris, onde mora modestamente no modesto bairro 16, com rendas de habitação que andam nos 7 mil euros mensais.
Perdoa, não sofras mais, esquece que o “artista” também foi Secretario de Estado e Ministro do Ambiente, responsável pelo lançamento do projeto do aterro da Cova da Beira, onde foi investigado por suspeitas de favorecimento ao seu antigo professor António Morais, (o tal) que mais tarde lhe ofereceu as notas ao domingo para concluir a licenciatura de engenharia civil.
A raiva é má conselheira. Se persistires em recordar que na investigação ao licenciamento do Freeport, varias testemunhas alegaram em tribunal que o filho da pauta teria exigido 2,5 milhões de euros (500 mil contos) para viabilizar o empreendimento, e que nas escutas ao amigo Armando Vara foi apanhado com indícios de um plano de controlo da comunicação social onde um procurador tentou acusa-lo e o “outro” travou a investigação.
Sabes que a inveja matou Caim. Se já moras na prateleira dos desempregados, sem subsídio e sem futuro, não invejes o emprego do filho da pauta na Presidência do conselho consultivo para a América Latina, de uma Farmacêutica que no seu governo se fartou de faturar aos hospitais públicos por ajuste direto, que acabou por desajustar a tua carteira
“Quem for inocente que atire a primeira pedra”. Não vem mal ao mundo, se o filho da pauta tem um fraquinho por restaurantes de luxo e por vinhos a 200 euros-garrafa, por modestas mesadas de 15 mil euros, e por apartamentos em prédios de referência na capital, que até consegue comprar por metade do preço do vizinho do lado, no mesmo prédio e no mesmo local.
Com um currículo assim, qualquer galo de campo estaria fechado detrás da rede do galinheiro, em vez de andar empoleirado à solta a dar lições de moral.
Faz lembrar-me a anedota da mãe que mandou o puto à cozinha para trazer duas cervejas frescas: o puto abriu a porta e gritou, “Mãe há só uma”. Pois é: mãe há só uma, mas com a Ex Procuradora Adjunta o filho de pauta tinha mais mães que o puto cervejas na geladeira.
Assim se governou Portugal no passado, assim se governa no presente, e assim se governará no futuro com uma Troika de filhos da pauta que nunca fizeram nada na vida, a não ser de seguir a voz e o rasto do dono que a seu tempo se encargará de os guindar ao poder.
Não será demais recordar as recomendações de, “Thomas Jefferson”, de “Almeida Garrett”, e do “Ti-Quim”.
“Acredito que as instituições bancarias são mais perigosas para a nossa liberdade do que exércitos prontos para combater. Se o povo alguma vez permitir que bancos controlem a sua moeda, os bancos e todas as instituições em torno dos bancos despojarão o povo de toda a posse, primeiro pela inflação, depois pela recessão, até ao dia em que os seus filhos vão acordar sem casa e sem tecto”. (Jefferson)
“Reduzi tudo a cifras. Comprai, vendei, agiotai. No fim disto tudo o que lucrou a espécie humana? E eu pergunto aos economistas-políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à penúria absoluta, para produzir um rico”. (Garrett)
O Ti-Quim, meu ídolo, era analfabeto redondo, inteligente, homem de poderosíssimas convicções e senhor do seu nariz. Lembra-me de o ouvir dizer. “ Suportar governantes com menos de 50 anos e sem 20 anos de experiencia empresarial, é como mijar contra o vento. Pensam que sabem governar, mas depois na prática a teoria é outra” (Ti-Quim)
“Vós alfabetizados, sabeis ler para que possam dizer-vos quem deveis amar, a quem deveis obedecer, quem deveis odiar, e o que deveis pensar”. ( Ti-Quim)
O Ti-Quim viveu e morreu a justificar sempre aquilo que comeu. Se cá volta-se diria: “ Governantes que não encontram o túnel, não podem prometer ao povo que a travessia esta a chegar ao fim. Sem a luz do fim do túnel, vivereis na escuridão porque sois uma cambada de nabos manipulada por uma cambada de filhos da p.…”.

terça-feira, 30 de abril de 2013

E Deus fica calado

01/05/2013
Batismo aos vinte dias, primeira comunhão aos seis anos (sem saber ler nem escrever), comunhão solene aos oito, quarta classe aos 10, crisma aos 12, altura em que a avó foi pedir a bênção do Pastor para que o neto fosse admitido no rebanho e seguisse as suas pisadas. O Pastor recusou o pedido, destruindo assim o desejo da avó, por causa do comportamento do pai do neto, que era um apreciador assíduo do néctar das vinhas do Senhor, e (pecador) leitor reincidente do jornal (pouco recomendado) Republica, ao contrário do (recomendado) jornalzinho paroquial que o pai do neto usava para embrulho de sardinhas e demais necessidades quotidianas. Triste, desiludido, o neto questionou a avó: E Deus fica calado?
O tempo passou, o neto nunca entendeu o comportamento do Pastor. Se é normal os progenitores responderem pelos atos dos filhos menores, o contrario causa alguma estranheza. Terá o Pastor sido iluminado numa antevisão divina, e viu por antecipação que o puto dificilmente iria passar a vida a jejuar do fruto proibido, e que seria um sério candidato à expulsão do jardim do Éden!
A ser verdade que Deus nos criou á sua imagem e semelhança, o neto não contesta a bondade de tão nobre iniciativa, e até compreende que no meio de uma absoluta solidão, sem corte celestial, sem ministros e conselheiros para conferenciar e tirar duvidas, e depois de uma semana tão cansativa para criar a Luz, o Céu, a Terra, o Sol, Peixinhos e Passarinhos, só ao sexto dia antes do merecido descanso semanal, é que lhe foi possível tratar da criação de criaturas com este triste resultado. Desde então, sempre em constante degradação até aos nossos dias, a começar pela primeira parelha, que foi expulsa do jardim do Éden por comportamento indecente. Indecente continuou o comportamento do primogénito Caim que não encontrou melhor passatempo senão o de matar o irmão Abel.
Depois foi aquilo que se viu. As bebedeiras de Noé, das quais até hoje nada se sabe se eram de tinto ou branco, para não falar das maldades que o filho lhe fez quando o encontrou embriagado na tenda, em pelota tal como o Pai o mandou ao mundo. Seguiu-se o comportamento desviante de Abraão com a criada Hagar, (cujos usos e costumes preservamos religiosamente ate aos nossos dias) e os parricídios atos de sacrificar o filho Isaque, não fosse o Anjo a salvar-lhe a vida e ordenar que em vez do filho sacrificasse uma ovelha (inocente) que por ali andava perdida. Porem, ninguém pode culpar o Criador de não tentar ajudar-nos. Era vê-lo jovem, todo-poderoso com Moisés a separar as águas do mar vermelho, a abrir-nos caminho para fugir do inimigo. Depois de salvos, a ordenar que as águas se juntassem e engolissem os perseguidores. Pobres e mal-agradecidos, aproveitamos a ida de Moisés ao monte Sinai conferenciar com o Pai, para iniciarmos nova conspiração e a pouca vergonha de adorar a imagem de um Touro em detrimento do Criador, que provocou a cólera de Moisés ao partir as tábuas das Leis, antes de serem promulgadas. Passados mil e quinhentos anos, Deus ainda tentou delegar poderes no filho para nos salvar. Recebeu em recompensa o filho pregado na cruz.
Não é de admirar que a idade e o nosso miserável comportamento, trazem Deus zangado e desiludido. Mas caramba, somos fruto da sua invenção, e não é justo abandonar-nos à deriva, a pagar o justo pelo pecador no meio desta ladroagem de carteiristas e vigaristas capazes de tudo, até de ensopar o pão e regar o bacalhau do Natal com o azeite roubado da lamparina do Senhor. Compreendo que (até) somos do piorio que se pôde inventar, e que no último século destruímos mais, de que nos restantes cinco mil milhões de anos do seu Reinado na Terra.
Que diabo, o neto não pede ao Criador para se manifestar com milagres como aqueles 35 à moda antiga do Novo Testamento, que agora tanto jeito davam. Tal como o de transformar água em vinho, (que anda pelas horas da morte), ou o de matar a fome a cinco mil famintos com 5 peixes e 2 pães, e ainda o de pescar 153 grades de peixe sem se molhar, ou de pescar peixes que já trazem moedas (convertidas) na boca, ou então já que ressuscitou Lazaro dava-nos um jeito do caraças se nos ressuscitasse meia dúzia de Salazares.
Nem sequer se atreve a criticar o Criador, por não ter afastado com um sopro o tsunami da Indonésia de 2004 que levou 300 mil inocentes, ou por não ter colocado o dedo encima das placas sísmicas do terramoto do (pobre) Haiti que levou mais 100 mil, e ainda por não ter desviado os aviões das torres gémeas que lhe roubaram mais 30 mil filhos. Se a idade já não lhe permite grandes Milagres, deveria então manifestar-se com um daqueles mais mediáticos que costumam estar na área de intervenção das “Senhoras” de Fátima e Lurdes. Como por exemplo, o Milagre de desviar os donativos universais do Óbolo de são Pedro, e entrega-lo aos irmãos do Zimbabué que sobrevivem com menos 0,50 cêntimos por dia, para liberta-los das labaredas Infernais onde estão a penar alguns dos 40 anos de esperança de vida, para que tenham uma vaga ideia das regalias Celestiais que levam os 921 irmãos de Francisco que vivem no Vaticano em representação do Criador.
Agora que a avó do neto faz parte do Além, poderá o Altíssimo confirmar a veracidade das suas afirmações, quando ela dizia que Deus está em toda a parte, e sabe tudo o que se passa. Se assim é, devera certamente o Criador ter alguma opinião do mundo que criou, mesmo se ainda não se dignou prenunciar-se. Pois algo terá a ver com aquecimento global, e com as revoluções do Norte de África, mesmo se acontecem em território da jurisdição Islâmica em que ditaduras matavam o povo, agora substituídas por tiranias religiosas que já entram a matar, legitimadas democraticamente pelos carrascos da democracia, que nos permitirão de julgar as futuras atrocidades com outra benevolência, na paz do Senhor.
Os sinais que chegam à terra são pouco animadores. Parecem querer dizer-nos que o nosso Deus é de uma direita fora de uso e em vias de extinção, que deixa privatizar tudo que lhe passa pela frente, para colocar os bens nas mãos dos mais poderosos, e coabita linda e Divinamente no meio deles, cada vez mais ricos a quem tudo sobra, e cada vez mais pobres a morrer de fome, e continuamos sem notícias do Criador sobre as calamidades, atrocidades e injustiças quotidianas no Mundo que criou.
Por cá, vemos os Ministros aumentar os salários deles e a diminuir os nossos, vemos o da Solidariedade que depressa encostou a scooter de transporte pobre, para ir visitar os pobres aos Bancos Alimentares Contra a Fome em transporte de rico, que também faz parte de um Governo que se governa a si próprio, assim que à sua família e mais um círculo restrito de amigos, com Ministros a expulsar o povo que deveria proteger, e com o Primeiro-ministro a passar as guias de marcha aos excluídos da mesa do orçamento, apontando o caminho onde os reformados e doentes podem ir morrer, tal como os militares que já sabemos que será na Síria, os professores no Brasil e Angola, descalços, de caixote à cabeça a distribuir as encomendas. Os restantes, tem a alternativa de reviver os velhos tempos, exilar-se e voltar a ocupar o Bidonville de Champigny em Paris, para mostrar a nossa veia aventureira, hasteando a bandeira nacional no acampamento à conquista da cidade como nos anos 60, a qual só arreou com a intervenção dos C R S e policia antimotim, a arrear forte e feio nos emigrantes, que depois de terem fugido à fome de pão, (como hoje) começaram a comer cacetada à grande e à Francesa.
Dito isto: o neto da sogra do descendente das bebedeiras de Noé e seu patrono Stº Onofre, não se põe a questão de saber se o homem é uma invenção de Deus, ou se Deus é uma invenção do homem. O mais certo é que o Criador falhou o seu projeto, e criou Monstros que não consegue controlar. “Pai do Céu, porque nos abandonas-te”?