quarta-feira, 18 de junho de 2014

Um velho retrato


17/06/2014
          Felizardos da vida, vivíamos todos em comunidade, as vacas (magras) viviam em baixo, separadas da malta pelo sobrado de madeira, eram tempos de ásperos recursos em que a necessidade aguçava o engenho e assim se resolvia a falta de aquecimento central e ambientador artificial, substituído pelo ecológico ambientador e aquecimento natural.
          O chão da cozinha era ladrilhado a perpianho deitado, a cheminé de campana aberta abrigava a família e servia de fumeiro para chouriços e presuntos curar ao calor do lume da lareira. A robusta parede de pedra dobrada tinha vários nichos embutidos. O nicho do fundo servia de borralheira e de aposentos para o cão e o gato nas noites frias de inverno; no da esquerda morava o cântaro de barro da água e demais utensílios da cozinha; o do lado oposto servia de armário e de mesa de jantar quando abria a porta na horizontal sustentada por duas dobradiças e uma estaca de madeira. A mísula saliente da parede suportava uma estatueta de pau de Nossa Sª de Fátima, maneta sem braços que foram queimados pela proximidade da chama da candeia a petróleo que iluminava o forno de pedra atrás da masseira onde a avó amassava o pão com a lengalenga: ”Assim se amassa / assim se peneira / assim se vira / o pão na masseira”.
          As camas eram de colchões de palha com pulgas. Em relação às pulgas, nos anos oitenta, um escritor estrangeiro por não entender o aumento da natalidade daquele tempo escreveu: “a culpa é dos pobres que tem um vigor sexual desregulado, e andam a procriar mais do que podem alimentar”. O senhor escritor não sabia que a culpa era das pulgas! Nesse tempo o casal passava a noite toda um encima do outro alternadamente. Enquanto o de cima descansava, o de baixo mexia o cú para fugir das picadas das pulgas que parecia uma bailarina no Harém das mil e uma noites. Agora para inverter a tendência, deveriam os casais comprar colchões de palha com pulgas para ver se a coisa funciona, a não ser que a coisa tenha sofrido uma trombose e nem as pulgas consigam dar-lhe sinais de vida.
          Manhã cedinho, os cornos a bater no sobrado acordavam a família para anunciar a hora do pequeno-almoço. Para as vacas a copa de palha, para os vaqueiros a tigela de água d‘unto com pão de milho, uma pechincha para o colesterol que na altura andava sem morada certa.
          O jantar era de três sardinhas, uma para o pai e as restantes a dividir pela família, acompanhadas da tigela de caldo com farinha e do potinho de vinho quente com açúcar para aquecer o colete antes de ir deitar. Quando a avó começava a rezar o terço era hora de o genro ir fazer companhia às pulgas. Os outros rezavam até adormecer enquanto a avó terminava a reza sozinha a pedir ao criador que nos livrasse das labaredas do inferno.
          As noites de fiada eram noites de festa, ninguém rezava, até as pulgas dormiam sozinhas. As vacas pernoitavam ao relento para ceder os aposentos às fiadeiras, que depois de estrumados com tojo novo para cobrir a bosta, eram equipados com bancos de madeira compridos encostados à parede onde elas se sentavam de roca à cinta engalanada com uma pelota de lã, estriga de linho apertada pelo naipe e fuso onde nascia a maçaroca. O espaço livre entre duas fiadeiras assinalava que a moça da esquerda (salvo-seja) era namoradeira.
          Bonitas, de rosa à orelha, asseadas de blusas brancas ou coloridas e saias de folhos com racha apertada na cinta com um colchete. Umas morenaças-do-caraças em contraste com a velha parede e a lanterna pendurada na trave de carvalho, pareciam um jardim de flores.
          Os rapazes previamente convidados só podiam entrar na fiada quando elas começavam a cantar, o que faziam divinamente sem acompanhamento instrumental como agora se usa para encobrir a voz de cana-rachada.
          De todo o lado chegavam grupos rivais. Era obrigatório cumprir as regras para que a coisa não desafina-se. O “Apaga-a-vela”, a nossa mascote não era flor que se cheire. Logo que podia atropelava todas as regras, sem olhar como nem na presença de quem, começava logo a gritar; “vamos rapaziada, galinha que canta quer galo”, o que deitava logo por terra todo o romantismo da coisa.
          Porém tudo lhe era permitido em troca dos serviços que prestava. Quando chegava a nossa vez de sentar ao lado da namoradeira, tratava logo de apagar a lanterna a petróleo soprando discretamente numa cana de foguete furada, que nos permitia com alguma prática e muita safadeza desapertar o colchete e abrir a racha da saia que transformava aquele momento escuro na mais clara recordação da nossa vida.
          Andei a aperfeiçoar técnica da cana furada desde a noite que a avó me levou à fiada e me sentou no feno dentro da manjedoura, um género de camarote presidencial do Moulin Rouge para me proteger de ser atropelado pelos adultos.
          Ainda hoje sinto arrepios na espinha ao lembrar o silêncio na corte quando o Timias entrou. Um sujeito de baixa estatura não superior a três garrafões de cinco litros de pé, com um cavaquinho ao tiracolo pendurado numa guita de foguete, a cantar: “Não há dinheiro que pague / a filha do lavrador / anda ao sol e á chuva / fica sempre da mesma cor” - “Quem me dera ser o linho / que vós na roca fiais / quem me dera tantos beijos / como vós au linho-dais”. Finda a dedicatória dirigiu-se à manjedoura, pendurou-me o cavaquinho ao peito e foi namorar.
          Da manjedoura vi com estes dois que a terra ade comer, uma cana furada que apagou a lanterna de petróleo, provocando a escuridão que me iluminou para sempre o caminho do colchete da saia com racha.
          Depois dessas memoráveis noites nada mais a declarar. As saias de colchete fechadas com racha foram substituídas por rachas abertas sem saia e sem colchete. Foi-se a adrenalina, nem o rastejar na lama da fronteira para dar o salto debaixo de fogo cruzado entre carabineiros e guardas-fiscais fizeram despertar a adrenalina da racha. Era o início de uma seca de vida alicerçada em padrões de banalidade, monótona e bastante aborrecente.
          Agora no meio deste turbilhão de preguiçosos e de ladrões, de rascas e de enrascados, de indignados e de “grandoleiros” desafinados, resta-me a recordação de um velho retrato. Um verdadeiro “Chef-d’oeuvre” do fotógrafo da minha terra, que me equipou a rigor antes de imortalizar o acto para memória futura, com o peito que sobrava de uma camisa que em tempos idos era branca, uma fina gravata preta pendurada num elástico ao resto do colarinho, um pulôver xadrez a preto e branco aberto nas costas que ajustava ao cabedal do cliente com uma mola de prender a roupa, antes de cuspir três vezes num pente desdentado em osso torrado que sacou de uma fenda da parede para dar o último retoque no penteado. Com o dedo em riste apontado para objetiva, ordenava: “Olha o passarinho; Hoje vais tirar o retrato da tua vida”.
          O velho retrato é o elo de ligação com o paladar da meia sardinha, o cavaquinho do Timias, o caldo de farinha, a tigela de água d´unto, o forno e a masseira da avó, o colchete da racha da saia e o feno da manjedoura vazia, escola de onde saltei para a arena da vida sem medo de enfrentar o bicho de caras, ao contrário de muitos “copinhos de leite” que saltam da recheada manjedoura universitária e nem para rabejadores servem.
          Aos aspirantes rabejadores, desejo que o Pai Natal lhes ponha no sapatinho um colchão-de-palha com pulgas. Se não lhe pegam de caras, peguem-lhe de cernelha para mostrar ao mundo que, “ assim se amassa / assim se peneira / assim se vira /o pão na masseira”. O colchete da saia, a saia de racha, as pulgas da palha; Que saudades!

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Encantadores de burros


          02/04/2014
          Para melhorar o diálogo com a parelha de fiéis amigos, filhos de pai incógnito como outros filhos de amigos menos fiéis, levou-me a coscuvilhar sobre o assunto até encontrar o escritor mexicano Cesar Millan Favela, mundialmente conhecido por “encantador de cães”.
          Antes de encontrar o famoso especialista, os motores de busca foram encontrar uma vasta lista de encantadores de burros, encabeçada por antigos e atuais governantes, acompanhados da habitual passarada política de “pintassilgos e rouxinóis, morcegos e patos-negros, galinholas e pardais, que infelizmente (como diz o Vitorino), cada vez há mais”
          Dizia o velho Napolitano, “si no è vero è bem trovato”. O autor desta lista nem terá pensado na desgraça da extinção do Burro Mirandês, mas sim no alastramento e extensão do Burro Português resistente à medicação e às adversidades, sem aftas nem fastio, capaz de devorar qualquer palha que lhe ponham na frente.
          Burros, aves de rapina e encantadores, travam uma luta sem tréguas para conquistar o lugar no poleiro com a promessa garantida que depois de empoleirados vão devolver as reformas e os salários roubados, reabrir hospitais, escolas e tribunais, e se necessário for, até vão ressuscitar os falecidos desde a vigência da troika, resgatando os mortos-vivos do braseiro infernal para uma nova vidinha celestial.
          Chega o mês de maio, mês de Maria, vai-se a troika quando o relógio do CDS parar, rezemos à Virgem de Fátima pela alma dos bem-aventurados Pedro e Paulo, e pela (suja) saída limpa do resgate, para agradece-lhe a limpeza que nos fizeram na carteira, depois de limparem o sebo a metade dos salários e das reformas, depois de terem aumentado a divida, sepultado quatrocentos mil postos de trabalho, e aliviado o povo da pesada carga de lucros que vinham da EDP, da REN, da ANA, dos CTT, dos ESNVC, da Caixa-Seguros, e de mais 78 mil milhões da troika, seguidos em breve da TAP e das Aguas de Portugal. Só falta vender a avó por falta de mercado, antes que o relógio do CDS seja substituído pela barriga do povo a dar horas nos próximos 20 anos, por causa da maldade de Pedro e Paulo que em menos de uma troika de anos conseguiram por o país pior que o chapéu de um trolha.
          Tudo não passa de uma estratégia protagonizada por “gangs”, formados de Pedros e Paulos selecionados para servir o dono e para fazer com que os ricos sejam cada vez mais e mais ricos, e os pobres sejam cada vez mais e mais pobres, deixando pelo caminho uma classe média na penúria irremediavelmente destroçada.
          Para eles os galões e promoções, para nós os apertões e restrições. Desde o pântano de Guterres à tanga de Barroso, um na sopa dos pobres, outro nos luxos da europa, ambos na calha da candidatura à presidência da república. Vítor Constâncio no BCE pela falência do povo e do BPN. Catroga com 50 mil euros mensais pela doação da EDP aos chineses. Gaspar volta à casa-mãe do FMI pela destruição do país. Arnaut no banco mais poderoso do mundo GOLDMAN SACHES pela ligação entre poder e poderosos para despachar as privatizações. Álvaro na OCDE pela promoção dos pastéis de belém. Enquanto nós alimentamos as fileiras do desemprego antes de ser alimentados pelos bancos alimentares contra a fome, rezando ao pai do céu para que a prescrição da fome e do desemprego tenha o mesmo tratamento das prescrições milionárias de Jardim Gonçalves e amigos da mesma laia.
          Para o funeral da pátria, temos as “carpideiras” Cavaco e Soares que choram lagrimas de crocodilo com a miséria dos reformados de 200 euros, desde que não lhe mexam nas milionárias reformas e negócios familiares. O genro de um(a), amarfanhou em 2012 o MEO Arena (reencarnação do falecido Pavilhão Atlântico) por21,2 milhões, que em 1998 nos custou 55 milhões. O(a) outro(a), ao faturar mais de 300 mil euros anuais à custa do suor do povo, fatura mais do que qualquer pequena ou média empresa, com despesas de Gabinete, Secretaria, Assessor, Carro, Motorista, e ajudas de custo em deslocações oficiais e oficiosas de palestras com o povo su(g)ado que aplaude entusiasticamente para agradecer-lhe a colaboração e presença no desfile a caminho da desgraça do país.
          Quantos mais reformados de 200€ terão de ser sacrificados? Quantos filhos terão de ficar sem teto? Quantos netos terão de emigrar para que estas trituradoras do erário público continuem a usufruir destes luxos numa pátria falida onde o prato do dia é a fome? Só falta galardoar o padrasto da reforma do IRC, que em harmonia com o ministro da economia, (mais conhecido por ministro das cervejas), deu um jeitão aos patrões das grandes empresas, permitindo-lhe por mais uns trocos na bolsa de valores, tirados da bolsa de estudos dos cientistas, e dos bolsos dos pensionistas, tudo em nome da pobreza e da (CES) Contribuição Extraordinária de Solidariedade para ricos. Eles juram que vivemos acima das nossas possibilidades e da nossa inteligência, na verdade se 40 anos depois de abril a transformar essa gente em governantes ainda não foi suficiente para aprender a obriga-los a cumprir as promessas que fazem, é porque somos irremediavelmente burros.
          Pobres heróis do mar, pobre povo de brandos costume, depois de perder heroísmo e nobreza foi transformado num povo de cagões sem valores, amordaçado e sem costumes nenhuns.
          Bem podia calar-me e acatar o conselho que nos Simpson, Homer deu ao filho Bart: “para ter sucesso na vida deverás repetir sempre a frase”:Boa ideia chefe”. Nunca ninguém se queixou que dar graxa lhe tenha prejudicado a carreira, é mais fácil encontrar um marciano verde-alface de que encontrar um chefe insensível à bajulação. Não gosto de chefes. Desconfio deles ao ponto que quando atravesso uma rua de sentido único olho sempre para os dois lados com receio que venha um em contramão para me atropelar. Eles também não gostam de mim. Preferem rejubilar no meio dos que atravessam a autoestrada sem olhar para lado nenhum, podendo assim atropelar à vontade os que passam a vida a lamber botas e aos trambolhões, espelhando assim a decadência do País.
          Sem heroísmos nem nobrezas, bastava-nos alguma dignidade para obrigar os governantes a iniciar as reformas do estado pela reforma do IRS e do IVA. Assim o povo teria mais dinheiro no bolso e mais poder de compra, consumiria mais, haveria mais procura, mais criação de novas empresas e mais empregos, haveria mais gente a pagar impostos e a descontar para o IRS e S Social, aumentariam as receitas, os salários, as reformas, a proteção social, os cuidados com a saúde, a educação etc. etc. É neste etc. que começa o receio dos governantes. Um povo com melhores salários e melhores reformas fica mais resmungão, mais reivindicativo e mais difícil de governar. A estratégia dos encantadores é de manter os burros de cabresto e o freio bem apertado.
          Já que representamos alegremente a cauda da europa, vamos abana-la para enxotar as moscas das substâncias excrementícias da história do passarinho.“Uma manhã fria de inverno andava uma senhora vaca a pastar na pradaria. Na sua frente um passarinho todo molhado chorava quase a morrer de frio. Com pena do passarinho a senhora vaca aproximou-se e deitou-lhe uma bosta em cima para o aquecer e salvar-lhe a vida. Passado algum tempo já fora de perigo o passarinho começou a gritar para que alguém o tirasse dali. Uma senhora raposa ouviu o passarinho gritar, aproximou-se e com a ponta dos dedos tirou o passarinho da bosta, limpou-o delicadamente na erva e comeu-o”. Moral da história: “Nem sempre quem nos tira da merda tem a intenção de nos salvar”.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Senta-te, e escreve duas cartas

02/01/2014

          Em Monção, o clássico bailado de dança das cadeiras do poder, fez lembrar-me a cena do filme “Traffic” onde o velho general fazia a passagem de testemunho ao seu substituto.
          “Traffic” um filme Germano-Americano de 2000, dirigido por Steven Soderberg que relatava o narcotráfico de diversas prospetivas: de um usuário, de um capanga, de um político, e de um traficante.
          A determinada altura, um velho General experiente, fazia a passagem de testemunho da coordenação da luta contra o tráfico de droga ao seu sucessor, a quem contava a história do antigo líder russo Kruschev, que quando forçado a sair, se sentou, escreveu duas cartas para entregar ao seu sucessor com as seguintes recomendações. “Quando chegares a uma situação sem saída, abre a primeira carta e estarás safo”. “Quando voltares a encontrar-te em situação idêntica abre a segunda carta”.
          O novo e inexperiente aspirante a general depressa levou a coordenação a um beco sem saída, abriu a primeira carta que apenas dizia: “Culpa-me de tudo”. A solução revelou-se eficaz. Tudo era culpa do passado.
          Depois de algum tempo a situação voltou a degradar-se até cair na segunda situação limite. Esperançado, o novo dirigente abriu a segunda carta que dizia: “Senta-te e escreve duas cartas”.
          Mais do que o conteúdo das cartas, marcou-me a carga metafórica do velho general, vergado pela experiência de vida, consciente das suas capacidades em contraponto com o inexperiente sucessor crente que a sua motivação, convicções e princípios iriam fazer a diferença.
          É com tristeza que vejo Monção a caminhar para uma situação sem saída. O sucessor não tardou em abrir a primeira carta não só para disfarçar o beco sem saída culpando o passado, mas tão somente criar para si próprio um currículo que definitivamente não tem e dificilmente um dia terá.
          Os sinais anunciam uma governação de navegação à vista, sem rumo e sem horizonte baseada na culpabilização do velho general e do passado. A falta de gabinetes para vereadores e deputados da oposição, a não consolidação da divida, o atraso nas atividades extracurriculares, os parquímetros, os velhos hábitos forrobodescos com os tradicionais magustos, jantares de Natal a 23 pagos por quem a 24 só pode cheirar o bacalhau. E ainda o forrobodó de “atividades de laser” promovidas pelos boys de serviço e personalizadas pelo pessoal de sempre, levadas a cabo nas piscinas, ginásio e cineteatro para que não falte exercício físico, banho e relaxamento com comédia de Ópera-bufa para retratar a triste realidade Monçanense.
          Consta ainda no rosário do despesismo as abastadas e luxuosas excursões, e o turismo subsidiado dos tesos. Enquanto os vizinhos arrecadam os euros nós requisitámos funcionárias para servir refeições aos turistas tesos, velhos “habitués” da nossa mesa do orçamento, enquanto os nossos restaurantes andam às moscas. Completa-se o ramalhete com o pagamento das penhoras e faturas da EDP para manter em pé os moribundos caprichos futebolescos.
          É claro que todo este clamor será administrado pela carrada de nomeações de “chefes”, que ao contrário dos professores, não tem de pagar e provar que sabem o que já sabiam, para começar a faturar com salários principescos passeando incompetência e ignorância por cima de anos de profissionalismo de pais de família e gestores privados que veem assim banalizado e emporcalhado o esforço e o fruto do seu trabalho que é transformado no papel higiénico destes coveiros da sociedade.    
          Estranho seria se um incompetente não nomeasse outro da sua laia que por sua vez seguirá o guião da incompetência até colocar a cereja no bolo da desgraça final. É por causa destas incompetências que pagamos décadas de despesismo desde o tempo da ditadura até ao tempo da “dita mole” tão flácida e impotente que nem com óculos de ler se vislumbra qualquer crescimento sustentável.
          Cinefilamente falando, parece que o aspirante a general ainda não percebeu que os amantes da 7ª arte já não se limitam a querer a mudança dos atores incompetentes como afirmam que já estão fartos de ver este (Traffic) filme de clara cultura de arrebanhamento, promoção da ociosidade e despesismo, em vez de promover as escolas, a indústria, o comércio, serviços, agricultura e o pleno emprego para que a gente de Monção encontre a sua dignidade de ser gente e o caminho da verdadeira cultura da liberdade.
          Arrepiou-me a resposta que o sucessor deu aos colegas numa reunião do executivo Camarário quando se ponderava uma auditoria às contas. “Não vale a pena, porque me palpita que a Camara vai ser auditada pela IGF”. Assim mesmo e sem pestanejar.
          Sem palpites, seria muito mais correto o sucessor ter informado os colegas que a Camara vai ser inspecionada (ou já foi) por causa do ginásio municipal. Que vai pagar a coima (ou já pagou) de uma contraordenação. Que vai ter de repor o IVA (ou já repôs) desde Outubro de 2010 a novembro de 2013. Que o contribuinte vai ter de continuar e abastecer a manjedoura do elefante para pagar estas ilegalidades. Que em setembro de 2013 andaram sorrateiramente a incluir o IVA nos preços do ginásio, mas em vez de aumentar diminuíram 23% para que tudo ficasse na mesma e para mostrar que vale tudo enquanto o contribuinte aguentar e a concorrência não for definitivamente enterrada.
          Não ficaria admirado se o coador das fugas tivesse largado mais uma, como a do polícia que vai a caminho e avisa o gatuno para fugir, razão pela qual terá sido incluído o IVA à pressa antes de a inspeção chegar. Ou então a inspeção já terá sido efetuada, mas como a governação em Monção era do tipo confidencial, os donos da coutada esqueceram a regra que a verdade é como o azeite, por mais reviravoltas que se dê acaba sempre por vir ao decima.
          Até salivo só de pensar no meu avô quando dizia, “quem não sabe F…. (que rima com prazer) até os C…… (que rima com balões) lhe enredam,” razão que me obrigou a fazer-me à vida desde tenra idade. Na mesma linha de pensamento filosófico deste naco de sabedoria, o meu avô acrescentava: “certa gente não F… (que rima com não pode) nem deixa F…. (que rima com prazer) ”. O mesmo que dizer que os parasitas, “nem trabalham nem deixam trabalhar.”
          É lamentável, arriscado e de péssimo mau gosto que certa “gentalha” se sirva do poder para tentar humilhar, apoucar, brincar com a dignidade e a vida profissional de jovens que investem e criam empregos na sua terra, “sem lamber os C…… (que rima com balões) a ninguém.”
          Da profundidade deste mar de dúvidas emergem duas certezas: 1ª, ninguém tem C….. (que rima com balões) para prever o final deste (Traffic) filme. 2ª, a culpa não morrera solteira. Porém desejo que tenha um final feliz.
          Meu caro, um bom general estende sempre a mão ao soldado que quer levantar-se, e estende sempre a perna para empurrar o soldado que quer cair. Nunca arrisca a vida do seu regimento por causo dos parasitas.
          Senão perceberes isto nunca serás um bom general. E se não arrepiares caminho, tenho muita pena mas estás aqui estás a sentar-te para “escrever duas cartas”.