terça-feira, 21 de julho de 2015

A Tape voou e não mais voltou

            17/07/2015

          A tia Miquelina era uma mulher-e-peras, com pedigree, bonita, jeitosa e de pouca ração. A certa altura da vida viu que a coisa já nem com festinhas lá ia, decidiu queixar-se do cabeça de casal que não cumpria com os serviços mínimos, e pelo andar da carruagem a pouca ração caminhava a passos largos para o fim da ração “tout-court”.
          Um final de dia, quando o luar tomava conta da noite na encruzilhada do caminho no centro do lugar, onde os cabeças de casal se reuniam depois do trabalho antes da janta para pôr a conversa em dia, estava eu deitado numa cápea do telhado do palheiro do ti Gostinho, a descansar de um dia cansativo, a memorizar a tabuada do três e a debulhar um alqueire de milho com a avó para encher o fole que no dia seguinte a moleira recolheria na varanda do dono do palheiro, local conhecido pelo, “sítio dos foles da farinha”.
          Sem rodeios e sem o requinte da linguagem das novas pedagogias, o cabeça de casal “disparou” em jeito de confidência que a coisa já não levantava mais, e que o Sr. Dr. dos Hospitais lhe tinha dado os sentidos pêsames pelos falecidos pistões que estavam rotos, provocando o efeito de quem sopra num balão furado que não consegue encher! Quando os colegas reforçaram os pêsames e perguntaram que figura (agora) aquilo tinha, ele que era analfabeto mas sempre de cabeça levantada com os olhos firmados nas estrelas do céu a ler as notícias dos astros no firmamento, olhou discretamente para a perna adormecida que baloiçava pendurada na cápea do palheiro, acrescentando: “Dou graças a Deus, enquanto tiver língua e dedo”!
          Passadas décadas, com a “doação” da TAP ao abrigo da linguagem das novas pedagogias, fiquei a perceber que a “nave” do cabeça de casal já não levantava porque os vasos cavernosos estavam rotos, provocando o tal efeito de soprar num balão furado, como acontece com os lucros da TAP que desaparecem pelo buraco da consorcia Brasileira de manutenção e engenharia VEM. Por mais que a gente lhe sopre, a nave dificilmente conseguirá levantar.
          Quando pela primeira vez ouvi cantar a mais emblemática das canções portuguesas Grândola Vila morena, percebi logo à primeira que aquilo era mais um sonho e que o povo não ordenava coisa nenhuma. Porém, estava longe de mim pensar, que para além de desordenados, também somos um povo surdo por não querer ouvir, e cego por não querer ver a realidade que nos rodeia.
          Desde as primeiras horas pós o 25 de Abril que os políticos perceberam a desordem do povo, aproveitando-se para transformar os partidos em brigadas de assalto ao património do estado, instituindo um poderoso poder paralelo, deixando ao “povo libre” a liberdade de pagar impostos e votar onde entender, sabendo que o resultado será sempre o de esticar a língua os palmos que quiser, para continuar a lamber botas e as migalhas que caem no chão. Bem-haja o cabeça de casal que deu à sua nobre língua a nobreza de outras nobres lambidelas.
          Não vou perder o meu rico tempo a descrever os milhentos exemplos da ladroeira institucionalizada no País. Basta olhar para a atual e anterior governação, das quais falaremos quando a procissão sair do adro e recolher com o pálio dobrado, para perceber que singrar na vida com dinheiro empresta(da)do é preciso ser governante ou já ter governado,  de resto é conversa fiada e chover no molhado.
          Entristece-me só de pensar que alguém poderá acreditar que sou do tipo de paraquedistas que cai no deserto e começa logo a gritar: “se há governo sou contra”. Nada disso, apenas me preocupa que o amigo não perceba logo à primeira que a nossa situação não é comparável à do copo meio cheio, mas sim à do copo praticamente vazio. De resto até sou um tipo otimista quanto ao futuro, porque com a falta de liquidez que temos, esta ladroeira será sol de pouca dura e água de instantânea fervura!
          Há dias um “amigo” pintava um trinta-e-um do caraças contra políticos que prometeram tanto, comeram tudo e não deixaram nada. Perguntei ao “amigo” se o país das promessas em que vive é o mesmo que o meu, porque nunca dei conta de nada.
          Quando me prometiam uma casa de luxo, desconfiava que iria pagar duas, e que nem dinheiro tinha para pagar a água da piscina. Quando me prometiam um carro novo, desconfiava que iria pagar dois, e que nem dinheiro tinha para pagar o seguro e gasolina de um. Quando me prometiam umas férias exóticas de verão, desconfiava que não podia arredar o pé da soleira da porta, e que iria passar o inverno debaixo da ponte. Quando me prometiam uma viagem de cruzeiro barata, desconfiava que tinha de levar barbatanas para fugir a nado, evitando o regresso carregado de panelas que davam para a feijoada inaugural da ponte Vasco da Gama.
          A Grândola Vila Morena é hoje música celestial do “povo que mais ordena” a vida dos políticos agrupados em gangues organizados. Se o povo soubesse dançar a música de Zeca Afonso, “prevenia antes de remediar”.
          A amnésia do povo é a maior inimiga da prevenção. Lava-nos o cérebro, leva-nos a memória, impossibilita-nos de ver as assimetrias de governos irmãos-gémeos que pegaram-de-estaca em 74, cuja semente daninha continua a contaminar toda a sementeira.
          O exemplo de um povo distraído, é o de só ter percebido quem era e por onde entrou o Gaspar das finanças, quando este já tinha saído do governo e voltado para casa-mãe do FMI, depois de ter delapidado o património do estado para beneficiar os amigos, em prejuízo do povo que durante séculos tanto sofreu para o conseguir.
          Antes de voltar à casa-mãe, o Gaspar era como o champô dois em um, que depois dividiu um em dois, com a Luísa nas finanças e o (taxinhas) Pires na economia. Este, um ilustre empresário na indústria da cerveja, com remuneração mensal veiculada de vinte mil euros, que trocou pela remuneração de cinco mil no governo e pelo patriótico espirito de missão para missionar a época dos saldos e despachar o resto do stock armazenado.
          Deitou mãos à obra e desceu do IRC para (a sua e outras) grandes empresas, a fim de relançar a economia com a compra de mais alguns iates de luxo, e na criação do emprego lá para os lados das Seicheles, Bahamas, ou Punta Cana: onde Minhotos, Beirões e Algarvios desempregados vão ver por telepatia os sonhos realizados.
          O taxinhas vinha com a lição bem estudada. Depois de relançar o emprego exótico e a economia naval, até conseguiu a proeza de enganar o Neeleman e o “ferroviário” Barraqueiro com a venda da TAP “falida”, cheia de buracos cavados desde o reinado do Guterres, sem que ninguém tenha dado por nada. A não ser que o tempo das cavações tenha sido o tempo útil e necessário, para que a noiva se apresentasse linda e asseada no dia do enlace da união de fato, (e gravata) com a bênção de Deus e aplausos de toda a comunidade.
          Isto chama-se lealdade para com os amigos. “PSD, PS e CDS: hoje por ti e pelos meus, amanhã por mim e pelos teus, e o povo que se f..a entre os seus”.
          O nosso comportamento de lambe-botas perante esta roubalheira descarada, faz lembrar-me o sujeito que caiu de um prédio de vinte andares, e enquanto vinha a cair gritava: “por enquanto tudo bem!”
          Nós continuamos a cair e a soprar no balão furado, mas: “por enquanto tudo bem”. “Enquanto tivermos língua e dedo já nada nos mete medo”.                                                                                        

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Tragédia Grega & SiRysitas Lusitanos


         19/05/2015
         Na biografia de Passos “Somos aquilo que escolhemos ser”, falta a vida boémia de Coelho nos copos, nos fados e nas guitarradas, onde se aprende de tudo menos a governar, mas que assenta como uma luva a Gregos e Lusitanos, que tem aquilo que merecem por terem escolhido de confiar o poder neste tipo de gente, que transformou o País numa coutada senhorial de retiro para abastados euro-aliados, que olham para os nossos governantes como uns pelintras parodiantes euro-depenados, entretidos a parodiar um povinho geneticamente ignorante e baixinho que nem com as botas do pai calçadas consegue comportar-se como gente grande.
          Até os que como eu são fãs do “poeta” Quim Barreiros, e de suas poesias verdadeiras obras-primas tal como “tira o carro mete o carro na garagem da vizinha”, e as deliciosas “ tetas da cabritinha” a liderar as audiências: não podemos ficar insensíveis às parodias da Tragédia Grega, com destaque para a viral peça, “os prometedores de promessas” magistralmente interpretada pelos parodiantes da trupe “Syriza” e seus principais atores Aléxis Tsipras, Yanis Varoufakis & Cª, sobejamente aclamados no meio da parodia-teatral como verdadeiras estrelas (de)cadentes com lata para levar suas obras ao mais alto lugar do pódio no euro-grupo, um género de festival de Cannes.
          Assim por alto em atalho de foice, a paródia evoca um partido politico que promete acordar os (Deuses) Gregos para chegar ao poder e transformar um país falido, desleixado e desfalecido na “Alice do País das maravilhas”.
          Tudo começa com multidões e coloridos de bandeiras ao vento, cartazes ao tempo, acompanhadas de música pimba, sons de cornetas e vuvuzelas, tambores e taramelas, com discursos de trombeta angelical anunciando a vinda do Senhor e do Pai Natal, carregado de noites de sonho e manhãs que cantam, para oferecer aos apaniguados que reivindicam o tacho público bem-rapado-e-mal-lavado que perderam, embrulhado em mais duas décadas de vida airosa na reforma a partir dos 45, à luz do dia e da eletricidade sem recibo à pala da companhia, não esquecendo o aumento do salário em 250€ para custear a longa e feliz reforma que tem pela frente. Em delírio, aplausos e aclamação terminou o 1º ato, “Os prometedores de promessas”.
          Aproveitei o intervalo para “escoar as batatas” e dar uma olhada na paródia à Portuguesa da sala ao lado, cumprindo a velha tradição de ter sempre um olho no burro e outro no cigano. É que se vigiamos só o cigano o burro come-nos as couves, se vigiamos só o burro o cigano limpa-nos a carteira, e se por desgraça aparecer um SiRysita Lusitano mais vale fugir.
          Decorria a bom ritmo a peça “Os SiRysitas Lusitanos”, interpretada por um elenco rasca de reles qualidade liderado pelo “Costa”, o “rasteirinhas” para os amigos, sempre à espreita da desatenção dos camaradas e do povo para passar-lhes a perna, e mais conhecido do público em geral pelo “Costa Concordia” com os Chineses, para agradecer-lhe a colaboração no desenvolvimento do País por terem amarfanhado a EDP, REN, Seguros e derivados, estes fulanizados no Catroga, no Vitorino e no Amado como brindes compensatórios.
          Voltei à sala da Tragédia para ver o 2º ato de “Os prometedores de promessas” que abriu com os atores de colarinho levantado e cachecol enrolado, a sobrevoar as promessas feitas até à sede do euro-grupo, a fim de tentar transformar as promitentes ilusões em reais concretizações, que segundo eles deveriam cair do céu aos trambolhões no dia de são-nunca-à-tarde pela fresquinha.
          Já reunidos com os euro-parceiros, sem perdas de tempo nem meias tintas informaram; Nós fazemos promessas e vosselências vão paga-las, com notabilidade pulha acentuada de uma polidez de bandalhos, aconselharam os parceiros a roubar-nos honradamente mais uns cobres até aos 70, para eles poderem aliviar a albarda a partir dos 45, passando a carga para os mártires de sempre que só por milagre alcançaremos a idade jubilar tão desejada.
          Tudo corria de feição, até que a malta do euro-grupo decidiu responder em euro-coro, afinado que nem o “Grupo Coral Públia Hortência”, acompanhado da coreografia de um magistral manguito, daqueles igualzinho ou superior ao imortalizado pelo patriota Bordalo Pinheiro, com a recomendação; “Queres fiado? Toma”.
          Mesmo assim, o parodiantes do colarinho levantado e cachecol enrolado, conseguiram água fresquinha suficiente na pia para batizar a Troika de “Instituições”, os Credores de “Parceiros” e para retardar por algum tempo o 3º ato da Tragédia Grega anunciada.
          Mais uns meses de populismo e de ilusões, com as respetivas convulsões, seguidas de eleições que o feixe e a machadinha ganharão para dar razão ao proverbio popular: “Queres conhecer o vilão? Mete-lhe a vara na mão!”
          O manguito “Made in Portugal” dedicado aos parodiantes Gregos, adornado da monumental cantoria, resfriaram um tanto os ânimos dos nossos parodiantes “SiRysitas”, que perderam audiências nas sessões de esclarecimento para ceguinhos, com promessas esfarrapadas de uma nova vida prometida a vizinhar com a Alice no País das Maravilhas. Enfim: comédia teatral!
          Se a nossa trupe de “SiRysitas” Lusitanos ganhar força e poder, saltamos das pantufas para o abismo sem discutir a Saúde, Segurança, Justiça, Ensino, Desemprego, Estado Social e o Crescimento do País, passando para a paródia que eles mais gostam de discutir: “A Aldeia da Roupa Suja” dos políticos da nova e da velha geração, que vão transformar o PS com D, no PASO com K, formar um “Bloco de Esquerda” e direita, com os “Livres” e os ocupados, os “Nós podemos” e os cansados, e demais “Republicanos”, que ao cair do pano vão entregar o poder aos Tiranos para mais meio século de frio e escuridão.
          “O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria: Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: O PAÍS ESTÁ PERDIDO!”- “Eça de Queirós 1871”, mais atual que nunca. Tragédias Gregas & SiRysitas Lusitanos; Que triste espetáculo!