terça-feira, 21 de julho de 2015

A Tape voou e não mais voltou

            17/07/2015

          A tia Miquelina era uma mulher-e-peras, com pedigree, bonita, jeitosa e de pouca ração. A certa altura da vida viu que a coisa já nem com festinhas lá ia, decidiu queixar-se do cabeça de casal que não cumpria com os serviços mínimos, e pelo andar da carruagem a pouca ração caminhava a passos largos para o fim da ração “tout-court”.
          Um final de dia, quando o luar tomava conta da noite na encruzilhada do caminho no centro do lugar, onde os cabeças de casal se reuniam depois do trabalho antes da janta para pôr a conversa em dia, estava eu deitado numa cápea do telhado do palheiro do ti Gostinho, a descansar de um dia cansativo, a memorizar a tabuada do três e a debulhar um alqueire de milho com a avó para encher o fole que no dia seguinte a moleira recolheria na varanda do dono do palheiro, local conhecido pelo, “sítio dos foles da farinha”.
          Sem rodeios e sem o requinte da linguagem das novas pedagogias, o cabeça de casal “disparou” em jeito de confidência que a coisa já não levantava mais, e que o Sr. Dr. dos Hospitais lhe tinha dado os sentidos pêsames pelos falecidos pistões que estavam rotos, provocando o efeito de quem sopra num balão furado que não consegue encher! Quando os colegas reforçaram os pêsames e perguntaram que figura (agora) aquilo tinha, ele que era analfabeto mas sempre de cabeça levantada com os olhos firmados nas estrelas do céu a ler as notícias dos astros no firmamento, olhou discretamente para a perna adormecida que baloiçava pendurada na cápea do palheiro, acrescentando: “Dou graças a Deus, enquanto tiver língua e dedo”!
          Passadas décadas, com a “doação” da TAP ao abrigo da linguagem das novas pedagogias, fiquei a perceber que a “nave” do cabeça de casal já não levantava porque os vasos cavernosos estavam rotos, provocando o tal efeito de soprar num balão furado, como acontece com os lucros da TAP que desaparecem pelo buraco da consorcia Brasileira de manutenção e engenharia VEM. Por mais que a gente lhe sopre, a nave dificilmente conseguirá levantar.
          Quando pela primeira vez ouvi cantar a mais emblemática das canções portuguesas Grândola Vila morena, percebi logo à primeira que aquilo era mais um sonho e que o povo não ordenava coisa nenhuma. Porém, estava longe de mim pensar, que para além de desordenados, também somos um povo surdo por não querer ouvir, e cego por não querer ver a realidade que nos rodeia.
          Desde as primeiras horas pós o 25 de Abril que os políticos perceberam a desordem do povo, aproveitando-se para transformar os partidos em brigadas de assalto ao património do estado, instituindo um poderoso poder paralelo, deixando ao “povo libre” a liberdade de pagar impostos e votar onde entender, sabendo que o resultado será sempre o de esticar a língua os palmos que quiser, para continuar a lamber botas e as migalhas que caem no chão. Bem-haja o cabeça de casal que deu à sua nobre língua a nobreza de outras nobres lambidelas.
          Não vou perder o meu rico tempo a descrever os milhentos exemplos da ladroeira institucionalizada no País. Basta olhar para a atual e anterior governação, das quais falaremos quando a procissão sair do adro e recolher com o pálio dobrado, para perceber que singrar na vida com dinheiro empresta(da)do é preciso ser governante ou já ter governado,  de resto é conversa fiada e chover no molhado.
          Entristece-me só de pensar que alguém poderá acreditar que sou do tipo de paraquedistas que cai no deserto e começa logo a gritar: “se há governo sou contra”. Nada disso, apenas me preocupa que o amigo não perceba logo à primeira que a nossa situação não é comparável à do copo meio cheio, mas sim à do copo praticamente vazio. De resto até sou um tipo otimista quanto ao futuro, porque com a falta de liquidez que temos, esta ladroeira será sol de pouca dura e água de instantânea fervura!
          Há dias um “amigo” pintava um trinta-e-um do caraças contra políticos que prometeram tanto, comeram tudo e não deixaram nada. Perguntei ao “amigo” se o país das promessas em que vive é o mesmo que o meu, porque nunca dei conta de nada.
          Quando me prometiam uma casa de luxo, desconfiava que iria pagar duas, e que nem dinheiro tinha para pagar a água da piscina. Quando me prometiam um carro novo, desconfiava que iria pagar dois, e que nem dinheiro tinha para pagar o seguro e gasolina de um. Quando me prometiam umas férias exóticas de verão, desconfiava que não podia arredar o pé da soleira da porta, e que iria passar o inverno debaixo da ponte. Quando me prometiam uma viagem de cruzeiro barata, desconfiava que tinha de levar barbatanas para fugir a nado, evitando o regresso carregado de panelas que davam para a feijoada inaugural da ponte Vasco da Gama.
          A Grândola Vila Morena é hoje música celestial do “povo que mais ordena” a vida dos políticos agrupados em gangues organizados. Se o povo soubesse dançar a música de Zeca Afonso, “prevenia antes de remediar”.
          A amnésia do povo é a maior inimiga da prevenção. Lava-nos o cérebro, leva-nos a memória, impossibilita-nos de ver as assimetrias de governos irmãos-gémeos que pegaram-de-estaca em 74, cuja semente daninha continua a contaminar toda a sementeira.
          O exemplo de um povo distraído, é o de só ter percebido quem era e por onde entrou o Gaspar das finanças, quando este já tinha saído do governo e voltado para casa-mãe do FMI, depois de ter delapidado o património do estado para beneficiar os amigos, em prejuízo do povo que durante séculos tanto sofreu para o conseguir.
          Antes de voltar à casa-mãe, o Gaspar era como o champô dois em um, que depois dividiu um em dois, com a Luísa nas finanças e o (taxinhas) Pires na economia. Este, um ilustre empresário na indústria da cerveja, com remuneração mensal veiculada de vinte mil euros, que trocou pela remuneração de cinco mil no governo e pelo patriótico espirito de missão para missionar a época dos saldos e despachar o resto do stock armazenado.
          Deitou mãos à obra e desceu do IRC para (a sua e outras) grandes empresas, a fim de relançar a economia com a compra de mais alguns iates de luxo, e na criação do emprego lá para os lados das Seicheles, Bahamas, ou Punta Cana: onde Minhotos, Beirões e Algarvios desempregados vão ver por telepatia os sonhos realizados.
          O taxinhas vinha com a lição bem estudada. Depois de relançar o emprego exótico e a economia naval, até conseguiu a proeza de enganar o Neeleman e o “ferroviário” Barraqueiro com a venda da TAP “falida”, cheia de buracos cavados desde o reinado do Guterres, sem que ninguém tenha dado por nada. A não ser que o tempo das cavações tenha sido o tempo útil e necessário, para que a noiva se apresentasse linda e asseada no dia do enlace da união de fato, (e gravata) com a bênção de Deus e aplausos de toda a comunidade.
          Isto chama-se lealdade para com os amigos. “PSD, PS e CDS: hoje por ti e pelos meus, amanhã por mim e pelos teus, e o povo que se f..a entre os seus”.
          O nosso comportamento de lambe-botas perante esta roubalheira descarada, faz lembrar-me o sujeito que caiu de um prédio de vinte andares, e enquanto vinha a cair gritava: “por enquanto tudo bem!”
          Nós continuamos a cair e a soprar no balão furado, mas: “por enquanto tudo bem”. “Enquanto tivermos língua e dedo já nada nos mete medo”.                                                                                        

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Tragédia Grega & SiRysitas Lusitanos


         19/05/2015
         Na biografia de Passos “Somos aquilo que escolhemos ser”, falta a vida boémia de Coelho nos copos, nos fados e nas guitarradas, onde se aprende de tudo menos a governar, mas que assenta como uma luva a Gregos e Lusitanos, que tem aquilo que merecem por terem escolhido de confiar o poder neste tipo de gente, que transformou o País numa coutada senhorial de retiro para abastados euro-aliados, que olham para os nossos governantes como uns pelintras parodiantes euro-depenados, entretidos a parodiar um povinho geneticamente ignorante e baixinho que nem com as botas do pai calçadas consegue comportar-se como gente grande.
          Até os que como eu são fãs do “poeta” Quim Barreiros, e de suas poesias verdadeiras obras-primas tal como “tira o carro mete o carro na garagem da vizinha”, e as deliciosas “ tetas da cabritinha” a liderar as audiências: não podemos ficar insensíveis às parodias da Tragédia Grega, com destaque para a viral peça, “os prometedores de promessas” magistralmente interpretada pelos parodiantes da trupe “Syriza” e seus principais atores Aléxis Tsipras, Yanis Varoufakis & Cª, sobejamente aclamados no meio da parodia-teatral como verdadeiras estrelas (de)cadentes com lata para levar suas obras ao mais alto lugar do pódio no euro-grupo, um género de festival de Cannes.
          Assim por alto em atalho de foice, a paródia evoca um partido politico que promete acordar os (Deuses) Gregos para chegar ao poder e transformar um país falido, desleixado e desfalecido na “Alice do País das maravilhas”.
          Tudo começa com multidões e coloridos de bandeiras ao vento, cartazes ao tempo, acompanhadas de música pimba, sons de cornetas e vuvuzelas, tambores e taramelas, com discursos de trombeta angelical anunciando a vinda do Senhor e do Pai Natal, carregado de noites de sonho e manhãs que cantam, para oferecer aos apaniguados que reivindicam o tacho público bem-rapado-e-mal-lavado que perderam, embrulhado em mais duas décadas de vida airosa na reforma a partir dos 45, à luz do dia e da eletricidade sem recibo à pala da companhia, não esquecendo o aumento do salário em 250€ para custear a longa e feliz reforma que tem pela frente. Em delírio, aplausos e aclamação terminou o 1º ato, “Os prometedores de promessas”.
          Aproveitei o intervalo para “escoar as batatas” e dar uma olhada na paródia à Portuguesa da sala ao lado, cumprindo a velha tradição de ter sempre um olho no burro e outro no cigano. É que se vigiamos só o cigano o burro come-nos as couves, se vigiamos só o burro o cigano limpa-nos a carteira, e se por desgraça aparecer um SiRysita Lusitano mais vale fugir.
          Decorria a bom ritmo a peça “Os SiRysitas Lusitanos”, interpretada por um elenco rasca de reles qualidade liderado pelo “Costa”, o “rasteirinhas” para os amigos, sempre à espreita da desatenção dos camaradas e do povo para passar-lhes a perna, e mais conhecido do público em geral pelo “Costa Concordia” com os Chineses, para agradecer-lhe a colaboração no desenvolvimento do País por terem amarfanhado a EDP, REN, Seguros e derivados, estes fulanizados no Catroga, no Vitorino e no Amado como brindes compensatórios.
          Voltei à sala da Tragédia para ver o 2º ato de “Os prometedores de promessas” que abriu com os atores de colarinho levantado e cachecol enrolado, a sobrevoar as promessas feitas até à sede do euro-grupo, a fim de tentar transformar as promitentes ilusões em reais concretizações, que segundo eles deveriam cair do céu aos trambolhões no dia de são-nunca-à-tarde pela fresquinha.
          Já reunidos com os euro-parceiros, sem perdas de tempo nem meias tintas informaram; Nós fazemos promessas e vosselências vão paga-las, com notabilidade pulha acentuada de uma polidez de bandalhos, aconselharam os parceiros a roubar-nos honradamente mais uns cobres até aos 70, para eles poderem aliviar a albarda a partir dos 45, passando a carga para os mártires de sempre que só por milagre alcançaremos a idade jubilar tão desejada.
          Tudo corria de feição, até que a malta do euro-grupo decidiu responder em euro-coro, afinado que nem o “Grupo Coral Públia Hortência”, acompanhado da coreografia de um magistral manguito, daqueles igualzinho ou superior ao imortalizado pelo patriota Bordalo Pinheiro, com a recomendação; “Queres fiado? Toma”.
          Mesmo assim, o parodiantes do colarinho levantado e cachecol enrolado, conseguiram água fresquinha suficiente na pia para batizar a Troika de “Instituições”, os Credores de “Parceiros” e para retardar por algum tempo o 3º ato da Tragédia Grega anunciada.
          Mais uns meses de populismo e de ilusões, com as respetivas convulsões, seguidas de eleições que o feixe e a machadinha ganharão para dar razão ao proverbio popular: “Queres conhecer o vilão? Mete-lhe a vara na mão!”
          O manguito “Made in Portugal” dedicado aos parodiantes Gregos, adornado da monumental cantoria, resfriaram um tanto os ânimos dos nossos parodiantes “SiRysitas”, que perderam audiências nas sessões de esclarecimento para ceguinhos, com promessas esfarrapadas de uma nova vida prometida a vizinhar com a Alice no País das Maravilhas. Enfim: comédia teatral!
          Se a nossa trupe de “SiRysitas” Lusitanos ganhar força e poder, saltamos das pantufas para o abismo sem discutir a Saúde, Segurança, Justiça, Ensino, Desemprego, Estado Social e o Crescimento do País, passando para a paródia que eles mais gostam de discutir: “A Aldeia da Roupa Suja” dos políticos da nova e da velha geração, que vão transformar o PS com D, no PASO com K, formar um “Bloco de Esquerda” e direita, com os “Livres” e os ocupados, os “Nós podemos” e os cansados, e demais “Republicanos”, que ao cair do pano vão entregar o poder aos Tiranos para mais meio século de frio e escuridão.
          “O País perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria: Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: O PAÍS ESTÁ PERDIDO!”- “Eça de Queirós 1871”, mais atual que nunca. Tragédias Gregas & SiRysitas Lusitanos; Que triste espetáculo!                                                                       

terça-feira, 17 de março de 2015

“Baile trágico em Paris:12 mortos”


             16/03/2015

          Poderá o “Charlie Hebdo” ficar chateado com o titulo de mau gosto, mas como é fruto do seu veneno e obra da sua imaginação, terá de ter paciência como outros tiveram há 45 anos, no tempo em que o seu antecessor “L’HEBDO Hara-Kiri” trilhava o sinuoso caminho das piadas, tal como eu e o Faneca trilhávamos o caminho da catequese, para decorar a ladainha de ave-marias-benzidas-a-seco à vergastada nas orelhas, que depois íamos refrescar na água cristalina do rio que passava a escassos metros ali ao lado do penitencial salão paroquial.
          Uma pequena represa do tamanho de meio campo de futebol, onde o Faneca exibia os seus dotes, em salto de parafuso com botas, para mergulhar no rio antes de iniciar o percurso à deriva no sentido da corrente, enquanto eu descalço iniciava o percurso ao repelo em sentido contrário.
          Ainda não tinha avançado meio metro, já o Faneca passava por mim (tal como Deus o deu menos as botas) a navegar em piloto automático, deitado de costas e braços cruzados ao peito em postura de defunto, a deslisar suavemente tocado pela corrente do rio.
          Quando intervalei para respirar, dei pela falta do comodista-navegante, que só depois de uma longa, e minuciosa pesquisa a pente fino pelas cachoeiras, fui encontrar dezenas de metros a jusante, já ao leme em piloto manual, a dar as últimas quase afogado, trancado dentro do cubo do moinho. Percebi então, que a nadar contra a corrente não ia a lado nenhum, a não ser para manter a forma física, e a mente em alerta vermelho de olho focado na tentação das facilidades, para evitar a morte por afogamento trancado no cubo dos moinhos.
          Os habituados nestas “nadanças” contra a corrente, dificilmente se deixam levar pelas enxurradas de hipocrisia do amontoado de figurantes invisíveis na cena, que na mão direita empunham o cartaz “JE SUIS CHARLIE”, e na esquerda “SOU DO BLENENSES”, com a mesma dor e compaixão, ou seja nenhuma, a não ser a tradicional “Maria-vai-com-as-outras”, um dia indignados com a desgraça do “CHARLIE”, e no dia seguinte com a falta de sapatos de marca para meter nos pés dos filhos, marimbando-se copiosamente nos enteados que por esse mundo fora morrem à mingua, que nem pés tem para meter nos sapatos.
          Há muito que andava com a pulga atrás-da-orelha; Hoje tenho a certeza que não sendo “CHARLIE” nem hipócrita, pode ser-se feliz de ainda ter pés para meter nos sapatos de marca branca.
          Os “CHARLOS” que tem necessidade de enxovalhar Deus para mostrar que são gente, são iguais à outra gente que em nome de Deus mata gente. E nós que também somos gente, filhos de Deus abandonados ao Deus-dará no meio da gente que nem liberdade nos dá de viver em paz como gente.
          Um bom cartunista pode ironizar com coisas sérias sem necessidade de ofender os seguidores de outras religiões. Um cartum com Deus a chorar, tem graça e não ofende ninguém, mas se for legendado, (“c’est triste d’etre aime par des cons”(sic) (é triste ser amado por estúpidos), ofende toda uma comunidade religiosa. Terroristas, assassinos, pedófilos, Fanecas e ladrões, vigaristas e cabrões há-os em todos os credos e religiões.
          Quem gosta de escrever nos limites do risco e no fio da navalha, não pode permitir-se de dizer o que pensa sem antes pensar mil vezes naquilo que diz, para não passar o resto da vida arrependido daquilo que disse sem ter pensado melhor. Diz-se, que escrever com algum humor é como fazer um discurso improvisado: Dá imenso trabalho!
          O Papa Francisco, com a simplicidade que o caracteriza, a inteligência e subtileza que só os sábios possuem, simplificou sabiamente a situação do “CHARLIE” com a frase: “se maltratares a minha mãe, levas um murro na cara”. Ou seja “o respeitinho cabe em todo o lugar, e quem não se sente não é filho de boa gente”.
          Para o Charlie Hebdo, os filhos de boa gente com sentimentos, não lhe mereçam respeito. Mesmo antes de o ser, o Charlie Hebdo já era useiro-e-vezeiro neste tipo de provocações.
          Na idade da adolescência, quando nos apaixonamos por “dá-cá-aquela-palha” e nos zangamos com o mundo inteiro, ficamos sempre marcados por recordações que nos acompanham para o resto da vida.
          O “Charlie Hebdo”, reencarnado das cinzas do “Hara-Kiri” é a recordação que não gostaria de guardar no baú das minhas memórias. A recordação que gostaria de guardar, desapareceu no fatídico dia 01 de Novembro de 1970, no incendio da discoteca “Cinq-Sept”, em Saint-Laurent-du-Pont, que ceifou a vida a 146 jovens da minha idade.
          Na altura a generalidade da imprensa Francesa referia-se ao acontecimento: “Bal tragique a Saint-Laorant-du-Pont: 146 morts”, (Baile trágico a Saint-Laurant-do-Pont: 146 mortos).
          Na semana seguinte morreu o General, Charles de Gaulle. Na publicação de 16 de Novembro, o Hara-Kiri para ironizar com a morte do General, chamou para a capa do jornal a macabra tragedia da semana anterior, “Bal tragique a Colombey: 1 mort”, (Baile trágico a Colombey: 1 morto). A França indignada proibiu o Hara-Kiri. Este para contornar a situação ressuscitou das cinzas com o nome do atual “CHARLIE HEBDO”. Andou pelas ruas da amargura até encerrar em 1982, situação que manteve durante dez anos.
          Graças a Deus, nem todos são FANECAS a deslizar na corrente do rio para juntar-se ao meio mundo de “CHARLIE(s)” que reivindicam este tipo de liberdade de expressão. Há muito para satirizar com situações mais terrenas, provocadas pela casta privilegiada de governantes caseiros e estrangeiros, verdadeiros desastre ecológico, mais perigosos que raposas dentro de capoeira, que não nos merecem a mínima réstia de consideração. Deixemos os Deuses em paz ao cuidado dos seus fiéis seguidores.
          Nós, Cristãos não podemos esquecer que ainda somos como pequenos animais recém-domesticados. Não podemos esquecer que durante milénios tratamos mal as nossas mulheres. Pessoas de outras religiões eram mal vistas na nossa sociedade. As portas fechavam-se a casamentos com outras culturas. Não faz assim tanto tempo, que nós cristãos, escravizávamos, torturávamos, chacinávamos e levávamos muitos inocentes às fogueiras cristãs. Fomos obrigados a civilizar-nos à marretada, da mesma forma que acontecerá com outras religiões. Um dia alguém virá dizer-lhe que o tempo das cavernas terminou e que nada justifica tão bárbaros comportamentos.
          O maior dos pecados cristãos, é a vaidade de nos considerarmos os pais do mundo, quando na realidade, nem a certeza temos de ser os pais de ninguém.
          Devemos ficar sempre de olho atento nas democracias ou religiões que passam o ano todo a oferecer-nos céu pouco nublado ou limpo. São preferíveis, as de quatro estações que oferecem calor e frio, chuva e sol, vento forte e até tempestades, para nos tranquilizar que não vivemos em ditaduras assolapadas.
          A fatiota dos aleijados da espinha dorsal, é o habitual look dos Fanecas, mortos vivos empenados da coluna vertebral, que como enguias no rio, vão oscilando na vida segundo a oportunidade para recorrer à mendicidade: “paz às suas almas”. Quando a corrente da vida vencer os usufrutuários da verticalidade, que importa? É preferível passar à história a nadar contra a corrente, que passar a vida de gatas a entupir os cubos dos Moinhos, e a servir de burro de carga, lambuzam-te da farinha no fundo do balde da maquia do moleiro. Não: “JE NE SUIS PAS CHARLIE”.

domingo, 18 de janeiro de 2015

O recluso 44: “Governante exemplar”!


          17/01/2015

          Seria uma manhã de Outono como tantas outras, se a afilhada do José, com cara de inverno carrancudo não me estragasse o dia, injustiçada com a injustiça da medida, que a justiça aplicou ao padrinho Sócrates.
           A afilhada rejubila de ver o “mestre Mário” e seus discípulos, a desancar na justiça, pelo tratamento vergonhoso que dão ao ex-Governante exemplar. Mário Soares, também ex-Primeiro Ministro, ex-presidente da Republica e conselheiro de Estado, protagonizou uma cena degradante entre o patético e o preocupante. O patético: de caras. O preocupante, é que o homem anda convencido que é o País, e que o país inteiro pensa como ele. Mal andaremos nós e o recluso 44, se continuarmos a receber lições de moral e visitas deste nível tão elevado.
          Deveria o Mário ouvir com mais atenção o Papa Francisco, e as 15 doenças que este verdadeiro líder Mundial diagnosticou na Cúria Romana, validas também para o Mundo em geral, onde aconselha os Mários de outras Cúrias menos católicas, a visitar os cemitérios para ver os nomes dos que se “achavam imortais, imunes e indispensáveis”.
           Da direita à esquerda, estamos engolidos por esta camarilha de “inDispensáveis” que se diz democrata, que cilindra os princípios e o respeito que exigem aos outros, uma casta politica privilegiada, que reage como vespa asiática atacada no ninho, sempre que o tacho começa a arder, e lhe cheira um possível encolhimento das regalias e do estatuto social, que defendem com unhas e dentes, e com a habitual falta de respeito pela justiça que vem de longe, estampada na célebre frase de Ferro Rodrigues a António Costa, proferida nas escutas do processo Casa Pia: “Estou-me cagando para o segredo de justiça”. Que mais se poderá esperar deste tipo de gente.
           Que Santo milagreiro conseguirá livrar-nos desta classe de privilegiados, que nasce embrulhada no cueiro da bandeira partidária, e nos tachos das instituições públicas, para depois caminhar até á assembleia da república, símbolo da nossa democracia, transformada no símbolo da nossa Caverna de Ali Babá, onde os Ali Chupistas iniciam a conta-poupança, disfarçada em contratos de duvidosa legalidade com as empresas onde jazem em final de carreira, servindo de caixeiros-viajantes entre o ubre que mamaram, e a teta que continuam a mamar. Como é possível estes mamões conseguirem guindar-se aos mais altos cargos da Nação.
           1º, ao contrário do que se pensa, os ricos não poem nem tiram governos, financiam partidos e coabitam lindamente com quem está no poder, seja o António, o Pedro ou o Paulo, lá estarão representados desde o Rés-do-chão até ao cume do telhado. Depois é a política do pisca-pisca segundo a direção que interessa tomar.
          2º, a classe-média espezinhada (coitada), completamente falida e destroçada, não tem tempo nem força para riscar seja o que for. Apenas tem liberdade de puxar a carroça com os lucros dos ricos, as despesas dos pobres, e governar-se com as migalhas que lhe restam. Se poupar as que caíram da mesa, ainda terá de pagar 25% de impostos sobre o 1% dos juros que conseguiu ganhar.
          3º, o pormenor do por maior desastre em que vivemos, está na fasquia dos 45% isentos que não pagam impostos, onde se infiltram os parasitas, mascarados de pobrezinhos muito carentes mas pouco inocentes, que constituem o verdadeiro Eldorado dos políticos. Elegem quem lhes apetece. Em vez de pagar, recebem impostos, trasvestidos em ajudas sociais da renda de casa, água e luz, despesas escolares dos filhos, tabaco, copos, cabeleireiro, e pedicura nos bailaricos dos Tónis Carreiras deste país.
          A afilhada dos 45%, andaria menos deprimida se prestasse mais atenção às jogadas dos governantes exemplares. É que, os luxos de uns, as (novas) oportunidades e rendimentos (mínimos) de outros, são a desgraça de muita gente, sem oportunidades nem rendimentos nenhuns, que definham ao ritmo que os parasitas proliferam.
          Os parasitas 45%, não querem saber dos 44, nem “do aterro sanitário da Cova da Beira em que o exemplar governante foi visado diretamente em 2003 por ter sido pago para garantir a adjudicação da obra ao amigo. Seguindo-se o caso do Freeport e os € 2,5 milhões do suposto pagamento de luvas em 2004. Da licenciatura em Engenharia Civil ao domingo em 2007. Das Casas da Guarda onde o exemplar governante assinou perto de 30 projetos de borla quando era deputado em exclusividade”. Poderiam querer saber também, “da compra da casa na Rua Braamcamp por € 235 mil em 2009 quando o vizinho pagou € 351 mil por uma igual. A, Face Oculta, Taguspark e a suspeita de atentado ao Estado de Direito por alegada tentativa de compra da TVI pela PT, e o suposto controlo da comunicação social. Seguindo viagem a todo o gaz com o mercedes S 550 CDI de € 95 mil, e a casa de € 3,0 milhões no bairro mais chique da cidade luz”. Enfim, ninguém está interessado em saber nada sobre o exemplar anjinho, protegido pelos anjos, “Pinto Monteiro, NoRonha do Nascimento e Cândida de Almeida”, que tudo fazem para o levar no andor até ao paraíso.
          Os 45% da populaça, passam pela crise como cão por vinha vindimada, acompanhados à guitarra pelo 44 da nossa desgraça, e à viola pela restante quadrilha de sacanas que sugam 10 milhões de bananas, fartos de ver esta pandilha em todos os crimes de corrupção nacional, assim que na dança das cadeiras no Governo, e nos mochos dos Calabouços, onde enriquecem o currículo cadastral, depois de ter enriquecido a carteira, com os assaltos ao “BPN, BES, Vistos Dourados, Monte Branco, Taguspark, Face Oculta, Operação Marquês, Tecnoforma, Casa Pia, Submarinos-afogados, Blindados-enferrujados, Portucale, Operação Furacão, etc etc. Neste etc faltam as 260 viaturas Blindadas Pandur, pelas quais a empresa fornecedora ofereceu € 705 mil em contrapartidas, e segundo o (DN) faltam €189 mil que devem estar Pandurados por aí”.
          Para quem anda de candeias às avessas, é estranho que de uma só paulada se façam os dois únicos acordos partidários do triénio. Depois da paulada das subvenções vitalícias, vem a cacetada da lei da rolha: “Calai-vos com o meu 44, que eu me calarei com os arquivos dos vossos Submarinos, Tecnoforma e Vistos Dourados”.
          É pena que um povo civilizado ainda tenha necessidade de ser orientado por este tipo de política pré-histórica, correndo o risco de passar a vida perdido à procura do caminho, comprometendo o futuro dos descendentes, transformando-os em parasitas incompetentes, à imagem destes “iMortais”, a coisa mais nojenta e miserável que já vi debaixo das estrelas. Em vez de governar governam-se, delapidando o povo que deveriam proteger.
          O rótulo de caloteiros que nos querem colocar na testa, fica tão bem estampado nos dentes destes “inSubstituíveis” que envergonham a sociedade. É triste ver o povo de braços caídos a permitir que se transmitam estes miseráveis exemplos aos nossos jovens: “onde governar a roubar é regra, ser apanhado é exceção”.
          Faz lembrar-me a história do burro. “Numa visita ao norte, um futuro engenheiro de Alijó, comprou um burro por 100 euros ao Ti Manel, que combinou de entregar-lhe o burro no dia seguinte. Mas quando voltou deparou-se com a má notícia. O burro tinha morrido. Então devolva-me o dinheiro! Não posso, já o gastei todo respondeu o Ti Manel. Então vou levar o burro morto. E que vais fazer com ele? Vou rifar o burro. Estás maluco? Vais rifar um burro morto? Obviamente não vou dizer a ninguém que está morto. Um mês depois, encontrou o visitante e perguntou: Então, o que aconteceu com o burro? Como lhe disse, rifei-o com 1000 rifas de 1 euro, e arrecadei 1000 euros. E ninguém se queixou? Só o vencedor. Devolvi-lhe o euro que gastou e ficou tudo resolvido”.
          Moral da história. A negociar burros, o artista chegou ao Palácio de São Bento em Lisboa, com férias pagas no Bairro 16 em Paris e no Estabelecimento Prisional de Évora, via Carregueira, antes de ir fixar residência em Monsanto, para a desmama na mama dos burros mortos”. Com esta malta ou abrimos o olho, ou passamos a vida a comprar rifas!