quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Câmaras de lábios pintados.

           (15/03/2001)
Hoje gostaria de começar com elogios rasgados, infelizmente não encontro motivo que valha a pena, nem ponta por onde lhe pegar, digo até que começa a ficar cansativo, a não ser de por encima da mesa o quinto e ultimo boletim municipal para conseguir ver se este é informativo, propagador, ou se os profissionais do progresso perseguem um outro desígnio, de encher o olho e alindar as bocas, ou adaptar-lhe a treta com a cara e a careta.
O interior poderia facilmente servir de leitura cor-de-rosa para cor-de-rosa ler, mesmo os que não sabem ler não faz mal, na banda desenhada o mais importante são os bonecos. A capa muito bem ilustrada poderá servir para a promoção dos herdeiros, que na ausência de património novo, vão promovendo o património existente.
A promoção começa com a Ponte do Mouro, uma jóia com mais de 2000 anos de intensa vida. Mais jovem e também encantador, Balneário Termal agora pintado pelas traseiras, dá-lhe outra perspectiva à obra que poderíamos chamar de aquário termal, porque nos seis anos de vida, parece que os peixes terão sido os mais assíduos termalistas. O Rio Minho, tal como um sargento de visita à caserna, sem aviso prévio já inspeccionou as instalações varias vises, e terá mesmo surpreendido o sentinela a curtir uma soneca, e quando decidiu dar á sola, só a dar ao remo se livrou da morte por afogamento. Consta-se porem ter sido o ultimo a abandonar a embarcação. Parabéns! É que estas coisas de parabéns não podem só ser cantadas em festas de aniversário. Falta agora pintar o “aquário pelas laterais, e teremos no nosso Balneário Termal, a Lili Caneças das borgas Monçanenses.
Por esta e outras tantas rações, acredito cada vez mais no conceito filosófico através da fórmula de que o trabalho não pode ser coisa boa, a prova disso é que a gente quando trabalha cansa-se. Outro conceito da mesma escola de pensamento, diz que só trabalha quem não sabe fazer mais nada. A autoria destes importantíssimos nacos de sabedoria, perde-se na bruma dos tempos, e quem sabe se foi o autor desses pensamentos um Platão, um Epicuro, ou talvez um destes filósofos mais recentes. Finalmente pouco importa, todos aceitamos a ideia que o trabalho é uma chatice, e basta apostar forte e feio no marketing e nos ruídos de superfície para abafar os verdadeiros problemas de fundo e mandar o trabalho às malvas.
Sobre este assunto, temos o exemplo do novo internamento com doze camas, já de lençol esticadinho á espera dos doze apóstolos do governo, escalados para pregar nestas paragens a doutrina de sempre. Mesmo assim não ficamos dispensados de rezar à virgem de Fátima, que interceda junto do criador para que mobilize a cristandade para a cruzada da conversão, antes que tudo isto caia no atraso, no ridículo e na humilhação. A coisa não esta para trindades, é mais aliciante optar pelo batôn em vez do betão, e dar-se uns retoques de brilho em vez de por o Concelho a brilhar.
Sinto-me entalado no fim deste segundo milénio, ao cair do pano de uma monumental comedia teatral camarária, e um segundo acto já em fim de tournée no inicio do terceiro milénio, nascido sob o signo dos Big-Acorrentados, ignorantes, e de políticos da onça e do faz de conta, e de Câmaras de lábios pintados.
Vulgar cidadão que sou, não abdico de perguntar onde é que tudo isto vai parar, com a revolução cultural que o nosso “primeiro” lançou, no auge da sua paixão pela educação, cujos resultados mostram que os rebentos  aprenderam que quem escreveu,”Fracos governantes fazem fraca a forte gente” foi o Marco Paulo, e o Camões terá cantado a balada, “Eu tenho dois amores”.É claro que envolvidos nestas rajadas de ventos culturais, depressa nos apercebemos que nunca chegamos aos calcanhares do Zé Maria, sex-simbol da sociedade, eu que pensava ter um arzinho de puro-sangue latino.
Ao Tio-Sam, xerife do planeta, restam-lhe 10 segundos de tempo de antena para esclarecer assuntos de somenos importância, como as bombas que enviou para os Balcãs, matando amigos e inimigos, uns no acto do castigo, e outros com a ajuda do urânio empobrecido. Os tempos de antena são para os Big-Acorrentados, para políticos de lábios pintados, enquanto as platónicas leucemias Balcãs, destroçam famílias e matam os nossos soldados.
Com estas distracções “foleiras”, ia esquecendo o Pena-Joia, que além de não ganhar para pagar apostas, tem sofrido outros percalços ao longo da vida. Já nos anos 70, tinha físico que parecia ter sido desenvolvido a andar de eléctrico e pulmões desenvolvidos fechado dentro de uma sala de bilhar, além de outras maleitas nos dias de mais frio. No baile da Associação dos 17 amigos, sempre com musica á escolha do cliente, que dava para dançar em simultâneo umas valsas assinguadas de rumbas, enquanto a malta formava par para coçar o umbigo, o Pena-Joia deu de caras com um naco de Xixa, daquelas que fazem subir as pulsações a um gajo, á beira de um ataque cardíaco. De saia um “furco” acima do joelho, e lábios cor-de-rosa pintados. “El matador”, que exibia o requinte da sua arte em qualquer arena, raramente falhava a estucada final. No intervalo que a gente aproveitava para escoar as batatas, o Pena-Joia regressava com cara de quem ressuscitava do outro mundo, parece que quando apontava a arma para a estucada final, finalmente o naco de Xixa transformou-se num latagão de Xixo. Saiu-lhe um travesti. Sem fala, deu do acontecimento uma descrição gestual que fez corar a malta até ás unhas dos pés. Nessa altura não se falava dessas “panasquices”, era como que um Sº João Batista a anunciar a vinda do senhor. Já em fase de recuperação, com voz trémula de quem termina um sprint no alto da torre, comentou: Nem tudo que brilha é ouro, e quando forem chamados a escolher, apalpem primeiro, poderá haver surpresa por detrás de lábios pintados.
São coisas da vida, quando passarem á historia nem a alma se lhe aproveita!

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