quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Boys e felicidade.

(01/07/2001)
No meio da mais alta pompa e circunstância, opulência, hossanas, propaganda e brilhantina, protagonizada por anões gigantes, nunca me cansarei de dizer que os últimos anos de vida Monçanense, foram subordinados a um modernismo feito a martelo, onde se privilegiou a obra de fachada, em detrimento da qualidade de vida da população e da personalidade profunda deste Concelho.
Hoje quase tutelado como quinta senhorial hipotecada e entalada numa clara estratégia de destruição, como testemunha a futura famigerada construção da barragem de “Cobalhão”, e a inevitável morte do Rio Mouro. O futuro risonho que tanto merecemos, já só está ao alcance dos que ainda acreditam no Pai Natal, e em palácios que se constroem em nome de pedintes, que mais tarde irão pagar com juros e língua de palmo e meio, por terem acreditado em slogans rasteiros, que as ferias e o telemóvel são sinais exteriores da nossa (pobre) riqueza, num País carregado de miséria e pobreza, a anunciar que o calculo falhou, e a corda que aperta o pescoço já nos acompanha a caminho da cadafalso. A modernidade apregoada, nem sempre significa desenvolvimento e progresso, mas tão só, fogo-de-vista.
O fachadismo, nunca fará de nós um Concelho melhor e mais justo, é uma ofensa para os Monçanenses que continuam a viver em péssimas condições, e com necessidades básicas, elementares não supridas. Sem empregos, sem saúde, água e saneamento, dificilmente seremos catapultados para o topo de gama, como os propagandistas nos querem fazer acreditar.
Já andava com esta fisgada há muito tempo, só que falar desta desoladora realidade, estraga as férias, dá calafrios e pode espantar possíveis leitores. Reconheço que a abordagem deste tema requer algum tempo de preparação, adaptação e não é coisa que se resolve assim à pressão de um abrir e fechar de olhos. Porém, não me sai da ideia que qualquer coisa de estranho anda por aí: quero dizer, algo que sem querer nos transforma nesta gentinha capaz de suportar tudo, com um encolher de ombros e sorriso envergonhado, a aplaudir governantes contentes de atingir o abismo, a esgravatar com as unhas no chão, para descer mais baixo e conseguir ainda pior, sem nunca perceber que a competência individual e colectiva, conquista-se com naturalidade. Continuamos a calcorrear os caminhos do facilitismo, com ventos favoráveis a soprar de feição das governações pimba, com incentivos por demais evidentes, com um Big-Marco disco de platina, um Big-Mario, Best Seller literário, um Zé Cabra a berrar em vez de cantar, e a múmia Lili, agora recauchutada e transformada em heroína nacional.
Assim continuamos a ser escaldados pelos vapores concentrados em nós, para nos incutir uma realidade que é uma ilusão, criada á custa da publicidade enganosa paga pelo contribuinte, para confortar as almas penadas, que ainda não perceberam estar algemadas a uma praga de Boys, hoje mais conhecidos pelos sem-abrigo de profissão, que são a marca evidente de um tipo de governação rasca, com governantes rascas, incompetentes para governar o que seja, rodeados de ignorantes, no meio dos quais não é difícil brilhar, e asfixiar o desenvolvimento de uma terra que vê deslizar para os bolsos dos Boys, os valores tão necessários ao melhoramento da condição de vida, de quem tanto luta para conseguir. Não interessa aqui desvendar e identidade dos protagonistas, de revelação em revelação há-de lá chegar, como S. Tomé vai perceber depois dos outros, mas estou certo que vera a luz no fim do túnel depois de esmagado, humilhado na escuridão.
Falta saber se o (e) leitor vai conseguir encravar-se a servir de muleta aos cravas, e assim contribuir para o aumento da verba no comes-e-bebes, que em 2000 subiu para os 8.000 contos, com metade por pagar e ainda trancada na garganta dos taberneiros cá do burgo, que em linguagem chã representa 135 salários mínimos triturados a dente.
Se a minha colaboração servir para ajudar a valorizar a classe, permita-me e aceite algumas sugestões que me parecem indispensáveis no dia-a-dia do candidato à manjedoura da palha, sem precisar de mexer palheira. Sugiro que o Boy faça uma formação acelerada, e não perca tempo nas escolas, nem com os livros que não o levam a lado nenhum, e não é por acaso que os Boys tenham ultrapassado todas as preferências na escolha da profissão, ultrapassando mesmo os polícias e os bombeiros, mesmo sabendo que as alternativas são variadíssimas, como a de esticadores de carteiras para “eles”, e meninas de passeio para “elas”, nada tem a ganhar com teorias, interessa a experiencia acumulada. Para “eles” as disciplinas baseiam-se em deixar de lavar a cara durante um mês, e deixar crescer a unha do dedo mindinho para abrir o maço de tabaco, e para “elas” basta-lhe usar blusa preta apertadinha, com decote largo e bota de cano alto, para que o curso tenha sucesso garantido. Não deverão ignorar as fontes de informação, por exemplo, é indispensável descobrir onde trabalha a bisneta da avó do Zé, para saber se a avó deles cantou no grupo coral da bisavó dela, e convêm saber se algum familiar já participou nas borracheiras do (Cesar) Augusto, e só falta passar a mão a(u) Lima para limar as arestas e já esta! Por último, nunca assuma que é um tropeço ignorante e que ignora o tema da discussão, lembre-se que eles tiveram a mesma carreira de línguas rapadas e lambe botas até à reforma. É claro que se esta tralha se infiltrar na política, corremos o risco de elevar a abstenção para mais de 90%, e os candidatos a candidatarem-se a apenas eles votarem maciçamente.
Para evitar tal derrapagem propunha que as mesas de voto fossem povoadas com as recentes aquisições de Guirls, e que os primeiros votantes sejam premiados com um rosário benzido, para rezar na abertura das urnas, antes que tudo vá parar ao meio do inferno.
Se tudo falhar, fique descansado que ainda podemos ser felizes, com a técnica do “Fogueteiro” de que sou testemunha ao vivo por, olfacção áudio e visual.
Ao regressar do trabalho eu e o Fogueteiro, (que assim apelidávamos por razões obvias, parecia que andava com um barril de pólvora na barriga), depois de uma breve visita à cerejeira do “Esteves”, e ainda com mais brevidade, o Fogueteiro atira-se da cerejeira abaixo, desata a correr à procura de alívio, nas traseiras da Sacristia da Capela com Santa do mesmo nome, aflito numa dança de Índio Apache a saltitar de um pé para o outro, não havia meios de conseguir desapertar o cinto das calças, que na altura era “moda” segura-las com uma corda atada com nó cego. Perante tamanha aflição, mal lhe cortei a corda com a foucinha, já o Fogueteiro estava de cócoras, a disparar uma girândola das que deixa um “gajo” atordoado. No seu rosto era visível uma felicidade contagiante, quando proferia as palavras: Meu Deus! Ai que bom! Que maravilha! Hoje é o dia mais feliz da minha vida! … Nunca desista da sua felicidade, faça como o Fogueteiro: Vá!..Vá lá; uma corda atada á cinta com nó cego, e uma barrigada de cerejas, a felicidade vem já a caminho.
Ah, não se esqueça da foucinha para não contagiar a felicidade por toda a vizinhança.
Vá, e seja feliz.

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