domingo, 29 de janeiro de 2012

O Bom Ladrão!

(01/12/2011)
Invadido pela injustiça das medidas de austeridade que o Governo está a implementar para nos esfolar vivos, fiquei bloqueado como quando é proibido falhar com a nova namorada, a quem nos apresentamos como campeões de natação, e não conseguimos “dar” duas braçadas sem morrer afogados, e sofrer a humilhação e evangélica compaixão; “deixa lá, na próxima pedimos o auxílio de um salva vidas”!
A justificação é de peso: a começar pela roubalheira dos salários de que se fala há um ano, do aumento dos impostos, o corte de 800 milhões na Saúde (que ficou em coma), dos quais metade vão direitinhos para a policia no caso de ser necessária uma intervenção mais musculada para nos tratar da saúde, ainda o corte de 200 milhões na Segurança Social para acabar de matar os (enteados) reformados, e os 600 milhões que o demoCrat(ic)o cortou no Ensino para  continuar tudo analfabeto e nunca perceber que os 35.000 milhões que a Troika  leva de juros acrescidos das receitas do património privatizado, davam para por esta terra de “Cristo” a funcionar como um relógio Suíço e para viver nela como um Sueco, em vez de ser o “Estado Social” a pagar a factura do “Dilúvio”, que só os 25 mais ricos se salvaram com “Noé” para continuar a fazer fortunas a vender-nos guarda-chuvas e lenços para limpar as lágrimas.
Não consegui encontrar melhor forma para desabafar da situação, sem socorrer-me do sermão do Pa. António Vieira, “O Bom Ladrão”, proferido quando decorria o Ano de Graça de 1655 na Igreja da Misericórdia em Lisboa (Conceição Velha), perante o Rei D. João IV, seus Ministros e conselheiros, que logo advertiu que a prédica iria incidir sobre questões de, “Poder e Corrupção, Opulência e Indigência, Adulação e Mistificação”.
Agora que decorre o Ano de Desgraça de 2011, o sermão mantêm-se: basta substituir o Rei D. João IV por Cavaco Iº, Ministros por Ministros, Conselheiros por Conselheiros, substituir a rota da Índia pela rota de Bruxelas, as caravelas por submarinos, a roubalheira das especiarias e metais preciosos pelos buracos (negros) do País e do B P N que nasceu quando decorria o Ano de Graça de 1993, administrado por um covil de ladrões, o qual já sangrou mais de que Cristo no Calvário para pagar as malfeitorias antes de ser nacionalizado “esfrangalhado”, deixando os lucros nas mãos dos delinquentes quando decorria o Ano de Desgraça de 2008,para depois de revigorado com “CINCO MIL MILHÕES,” ser privatizado quando decorria o Ano Desgraçado de 2011 e oferecido ao ex Ministro do “Reino” pela calada da noite quando decorria o Domingo que Deus deu ao repouso, em que também foi tomada a Santa Casa da Misericórdia e a C G de,“Depósitos de Boys”, enquanto nós pagamos os desfalques “Reais”.
Corridos e decorridos 356 anos do Ano de Graça de 1655, o sermão “ O Bom Ladrão”, do Pe. António Vieira continua actual invocando o pensamento de Santo Agostinho, que mostra a diferença entre os Reinos, onde se comprovam as opressões, injustiças e as covas de ladrões, onde as ladroeiras são enormes, denunciando os Príncipes que em vez de proteger o povo como pastores, roubam-no como lobos.
“Levarem os Reis consigo ao Paraíso ladrões, não só não é companhia indecente, mas ação gloriosa e verdadeiramente real, que com ele coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de Rei. Mas o que vemos praticar em todos os reinos do Mundo e, em vez de os Reis levarem consigo os ladrões ao Paraíso, os ladrões são os que levam consigo os Reis ao Inferno”.
“O que só digo e sei, é que em qualquer parte do Mundo se pode verificar o que Isaías diz dos Príncipes de Jerusalém: os teus Príncipes são companheiros dos ladrões. E porquê? São companheiros dos ladrões porque os dissimulam, porque os consentem, porque lhe dão postos e poderes, porque os defendem; são seus companheiros, porque os acompanham até ao inferno”.
“Navegava Alexandre com uma poderosa armada pelo mar de Eriteu à conquista da Índia, e ordenou que lhe fosse trazido á sua presença um Pirata que por ali andava a roubar pescadores. Alexandre repreendeu-o por andar em tão mau oficio: porem o Pirata que não era medroso nem lerdo, respondeu. Basta, Senhor, que eu roube uma barca para ser um ladrão, e vós que roubais uma armada, sois Imperador? Assim é. Roubar pouco é culpa, roubar muito é grandeza: roubar com pouco poder faz piratas, roubar com muito faz Alexandres Imperadores. Os grandes enforcam: os pequenos, acabam enforcados. Quando li isto em Sêneca não me admirei tanto de que um estóico se atrevesse a uma sentença em Roma. O que me envergonhou, foi que os nossos oradores evangélicos em tempo de Príncipes e timoratos, não preguem a mesma doutrina”.
“Eles furtam pelo modo infinito, porque não tem fim o furtar com o fim do Governo: Sempre lá deixam raízes, para continuar os furtos: furtam juntamente por todos os tempos, porque o presente (que é o tempo deles) colhem quanto dá de si o Triénio; e para incluírem no presente o pretérito e o futuro, de pretérito desenterram crimes de que vendem os perdões e dividas esquecidas, que pagam inteiramente, e do futuro empenham as rendas, antecipam os contratos, com que tudo caído e não caído lhes vem a cair nas mãos. Finalmente nos mesmos tempos não lhe escapam os imperfeitos, perfeitos, e quaisquer outros, porque, furtam, furtavam, furtaram, furtariam e haveriam de furtar, se mais houvesse. Em suma, o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo; a furtar por furtar. E quando eles têm conjugado assim toda a voz activa, e as miseráveis Províncias suportado toda a passiva, eles como se tiveram feito grandes serviços, tornam carregados e ricos; e elas ficam roubadas e consumidas”.
Numa faceta satírica, comenta: “Dom Fulano (diz a piedade bem intencionada) porque é um Fidalgo pobre, dê-se-lhe um Governo. E, quantas impiedades contem esta piedade? Ao pobre dê-se-lhe uma esmola para que o governo pobre desempobreça á custa dos que governa e continue a fazer mais pobres para ele se tornar mais rico.”
Uma das interpretações do sermão do Pe. António Vieira, poderá dizer que em Jerusalém foram condenados e crucificados dois ladrões com Jesus de Nazaré Rei dos Judeus a quem o Bom ladrão pediu para se lembrar dele quando chegasse ao seu reino, a quem o Rei dos Reis respondeu: “algum dia estarás comigo no Paraíso”. Deveria seguir-se o exemplo dos Reis que conseguem encaminhar e salvar ladrões convertidos arrependidos e leva-los ao paraíso, ao contrario de outros Reis (corruptos) que se deixam arrastar pelos ladrões, arrastando assim o seu povo para o Inferno.
O padre António Vieira não sabe de “meia missa” da ladroeira organizada neste covil de ladrões habituados a roubar a Índia, Brasil, Angola e agora “Bruxelas”, a viver da preguiça e dos rendimentos da roubalheira até ser apanhados pela miséria e pela Troika, que nos retribui com a mesma moeda, a transformar os rendimentos máximos em rendimentos mínimos, a delapidar os bens ilícitos que adquirimos com as fortunas roubadas:”Quem rouba um ladrão tem cem anos de perdão”. Éramos pedintes, caminhamos miseravelmente para um futuro de pedintes, governado por pedintes com esmolas de pedintes, e no meio de tanta pedincharia é melhor fechar as portas para balanço, pegar nas enxadas para trabalhar, devolver os submarinos ao “dono” e comprar barcos para pescar, e quem assim não entender, ao Inferno com os LADRÕES vai sepultar.

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